sexta-feira, 13 de abril de 2012

Entre o verbo e a acção*


O Presidente do PSD e actual Primeiro-ministro (Chefe do Governo como faz questão de se afirmar) utilizou o discurso de encerramento do congresso do seu partido para mostrar ao país que conhece muitas das situações dramáticas vividas por um número cada vez maior de portugueses e portuguesas e que reconhece a necessidade de lhes ser dado combate.

Afirmou-se preocupado com o crescimento do desemprego – chamou-lhe chaga social, com a desertificação dos territórios de muito baixa densidade, com a necessidade de nessas regiões ( leia-se todo o interior), o Estado  não abandonar essas populações.

Gostei do que ouvi. Algumas daquelas afirmações não ficam longe das razões que aqui, no Norte Alentejano, vimos esgrimindo e foram bandeiras para a Greve Geral do passado dia 22 que também aqui foi cumprida.

O problema não está no discurso, apesar deste estar impregnado da ideologia do novo-riquismo que num dia esmaga os direitos e o emprego, para no dia seguinte se disponibilizar “caridosamente” a dar uma sopa aos espoliados. O problema está naquilo que o meu camarada Carlos Carvalhas designava com o colorido do seu sotaque beirão “ a distância entre o verbo e a acção”.

De facto quanto ao verbo estamos de acordo. O desemprego transformou-se numa chaga social que importa combater; os territórios de muito baixa densidade sofrem problemas graves de desertificação e as populações ficam cada vez mais afastadas dos serviços e dos bens que lhe são necessários; o estado não pode, também ele, abandonar essas regiões e essas populações…

O problema é a acção ou, a falta dela.

Recordemos o que tem sido a acção política do governo e os seus resultados no nosso território.

Quanto ao desemprego.

Nos últimos meses o desempregou disparou enquanto os desempregados viram ser-lhes retirados ou drasticamente reduzidos os apoios sociais que lhes são fundamentais. Hoje é o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) a confirmar que nos tempos de Passos Coelho o desemprego não parou de crescer. Em Fevereiro de 2012 o aumento em relação ao mês homólogo de 2011 foi de 7,9% e sabemo-lo, o número de desempregados no distrito aproxima-se hoje dos dez mil.

No mesmo período acelerou a destruição do aparelho produtivo, regressaram os salários em atraso, aumentaram as insolvências e a destruição de emprego.

Quanto às dificuldades nos territórios de baixa densidade e o seu abandono, ou não, pelo Estado.

No Norte Alentejano foram e continuam a ser encerradas escolas nas freguesias rurais e foram-lhes retirados os transportes públicos. Este governo, o governo “chefiado” por Passos Coelho deu continuidade e intensificou todas as malfeitorias anteriores tendo mesmo dado execução ao “assassinato” do transporte ferroviário com a extinção do serviço de passageiros entre Abrantes e a Fronteira e o fim do movimento no ramal de Cáceres.

Este mesmo governo encerrou serviços de saúde, diminuiu horários e valências e retirou o transporte aos mesmos doentes a quem empurrou para as urgências hospitalares e prepara-se agora para encerrarem juntas de freguesias e debilitarem todo o Poder Local Democrático enquanto estrangula o Ensino Superior e os focos de produção cultural sedeados no nosso distrito. É o responsável principal pelo acelerar da morte de muitos portugueses e portuguesas e também pelo acelerar da morte da nossa região.

Este governo que se move como gestor de interesses estrangeiros está a empurrar-nos para fora do nosso território e fá-lo perante a indiferença e o silêncio dos que eleitos por nós se afirmam não como representantes da região que os elegeu mas como capatazes do governo junto da população.

Durante muito tempo insurgi-me contra os que sabendo o que aqui se passava e tendo a obrigação de o denunciar trocavam tal obrigação por um lugar com visibilidade social e remuneração tentadora.

Tinha razão. Eles sabiam o que estava a acontecer.

O Presidente da Comissão Politica do PSD e “ Chefe do Governo” confirmou-o. Eles sabem, sempre o souberam, só não estão interessados em arrepiar caminho ou resolver quaisquer problemas que não sejam os seus.

O seu objectivo é, confirmamo-lo a cada dia, rigorosamente igual aos objectivos dos que os antecederam nas cadeiras do poder: gerir os benefícios que o poder lhes traz. Substituir boys rosa por boys laranja ou azul, distribuir benesses e lugares pelo aparelho partidário e posicionarem-se o melhor que podem para resistirem à mudança que um dia virá.

Por estas e por todas as inúmeras razões conhecidas a luta dos trabalhadores e da população é absolutamente necessária e acabará, como sempre, por os derrotar. 

Esperemos que o consiga em tempo útil para nós e para a nossa região.

Diogo Júlio Serra
* Artigo publicado no Jornal Alto Alentejo de 11-4-2012

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