segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

ALENTEJO TERRA DE LUTA!


Estala um movimento grevista dos assalariados rurais do Alentejo, como protesto contra a falta de cumprimento, por parte dos agrários, dos salários que haviam sido tabelados três meses antes. Em Évora, o movimento generaliza-se rapidamente, alastrando a outros trabalhadores, difundindo-se de igual modo pelas povoações do distrito e alargando-se a Beja. Face à persistência dos grevistas, o Governador Civil, Paulino de Andrade, mandou encerrar a Associação dos Trabalhadores Rurais, registando-se prisões de vários grevistas, os elementos mais activos, ao mesmo tempo que fazia avançar a cavalaria contra os trabalhadores em greve. Os delegados das associações operárias decidem proclamar a greve geral. As autoridades encerram as sedes de outras associações operárias, registando-se confrontos entre os grevistas e as forças da GNR e do Exército, de que resultaram vários feridos e um morto.
In Fundação Mário Soares – Arquivo & Biblioteca


A 1 de Janeiro de 1912 eclodia em Évora a segunda Greve Geral dos Rurais do Alentejo (a primeira tivera lugar em Junho do ano anterior), como resposta ao não cumprimento pelos agrários dos acordos firmados três meses antes.

Esta greve e a brutal repressão que se abateu sobre os rurais de Évora, teve uma importância enorme na sociedade portuguesa de então pois desencadeou uma onda de solidariedade por todo o país levando à proclamação da Greve Geral e à confirmação da ruptura entre a Republica, recentemente proclamada, e os operários organizados.

Portalegre não ficou indiferente a estes acontecimentos.

A 20 de Janeiro, na Cooperativa Operária, realiza-se uma assembleia convocada pelas associações de classe dos Corticeiros, Manufactores de Calçado e Alvanéus, destinada a apoiar os trabalhadores em greve, seguindo-se uma manifestação para o Governo Civil[1].

No decorrer dessa manifestação são presos 8 trabalhadores: Gervásio Augusto Madeira, António Teixeira, Manuel Esquetim, Carlos Pereira Ramos, Joaquim Maria Carrapiço, António Soares, Francisco Cabecinha e Domingos Baptista, mantidos em prisão até 16 de Maio.[2] Também por estas prisões e pela intensa acção sindical e de solidariedade com os operários presos, Portalegre integra esse movimento que coloca os trabalhadores e as suas associações de classe no centro da actividade social e política.

A greve geral virá a ser derrotada pela força das canhoeiras, pelas cargas de cavalaria, pela prisão e degredo de centenas de trabalhadores e pelo assassinato de alguns deles, mas o sinal fora dado. A partir de então os rurais entravam decididamente na luta sindical e o movimento sindical portalegrense rompia definitivamente as amarras com o mutualismo, esquecia as promessas dos republicanos e abraçava o Sindicalismo Revolucionário.

Um século depois, os trabalhadores alentejanos e em particular do norte-alentejano confrontados com os resultados do modelo de desenvolvimento imposto pelos partidos do chamado arco da governação retomam a necessidade de cortar amarras com as promessas da direita e do PS e tomar em mãos o seu futuro e o da região.

Cem anos depois dos acontecimentos que ditaram o “divórcio” do operariado com o discurso republicano é-nos colocada a necessidade de romper com pessoas e organizações que não quiseram manter a nossa região nos caminhos do desenvolvimento e tomarmos em mãos a construção do nosso próprio caminho.

É o tempo de acreditarmos que existem caminhos alternativos àqueles por onde nos têm conduzido e, sobretudo, que os caminhos novos podem e devem ser encontrados sem necessidade de “guias” ou “condutores”.

É o tempo de reforçar a capacidade regional de fazer ouvir a voz e o querer dos norte-alentejanos.




[1] Ventura, António – Subsídios para a História do Movimento Sindical Rural no Alto Alentejo, 1976
[2] Matias, Elias – Alentejo em Luta, 1985

Sem comentários: