segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

A Voz dos Alentejanos no XII Congresso


Camaradas Delegados/as e Convidados/as

     O Alentejo vive hoje uma situação de recessão e estagnação económica e social resultante de trinta e cinco anos de política de direita que impuseram a destruição da base produtiva regional e a deslocalização e enceramento de empresas ali instaladas com o objectivo de sugarem os fundos disponibilizados pelos governos e pela comunidade.
Este resultado é agora brutalmente acelerado pelo pacto de agressão a que todo o país está a ser sujeito.
     O desemprego e a exploração atingem níveis só verificados durante o fascismo e o governo e os patrões preparam uma nova ofensiva visando colocar-nos na situação vivida há 50 anos atrás, quando com a luta intensa e abnegada de milhares de trabalhadores e trabalhadoras conquistámos, nos campos do Alentejo e do Ribatejo, a jornada de trabalho de 8 horas.
     Quando assinalamos 50 anos da conquista das 8 horas nos campos, governo, patrões e aliados, procuram impor-nos o que derrotámos em pleno fascismo.
     A lógica economicista e mercantilista que tem orientado os governos e que é agora intensificada pelos que impõem, e pelos que aceitam, o pacto de agressão, tem-nos imposto não apenas a redução dos salários e do emprego mas também uma brutal redução nos serviços públicos e um enorme desprezo pela cultura e pelos agentes culturais da região.
     As políticas de merceeiro com que o país e a região têm sido confrontados impuseram-nos o adiamento das infra-estruturas rodo-ferroviárias de que o Alentejo carece e mesmo, o desmantelar de vias seculares existentes, a troco de coisa nenhuma, como o são o caso recente do encerramento do transporte ferroviário de passageiros entre Abrantes e Espanha e o desmantelamento do Ramal de Cáceres.
     Também o Alqueva, sonho e bandeira de luta de décadas, é vítima da tacanhez de quem decide, a partir de fora, as politicas para o Alentejo.
     O empreendimento de fins múltiplos, garantia de desenvolvimento para toda a região, foi abandonado e põe-se agora em causa que possa haver regadio para milhares de há de terras já preparadas para culturas regadas. O aeroporto de Beja continua desactivado, Universidade e Politécnicos formam jovens que o governo destina à emigração e a riqueza patrimonial e paisagística não potencia o turismo porque não são garantidas as condições de acessibilidade, saúde, segurança e valorização do território que a actividade turística necessita.
     O poder local democrático, motor do desenvolvimento e garante das condições de vida até agora usufruídas está também ele, na mira dos mentores da agressão.
     A ofensiva colocaria as nossas populações ainda mais isoladas e empobrecidas e por isso, tem merecido o repúdio e a luta das populações e dos autarcas de que são exemplo as concentrações realizadas nas cidades de Évora e Beja.

Camaradas Delegados e Convidados
     O Movimento Sindical e os trabalhadores e trabalhadoras do Alentejo têm vindo a bater-se pela necessidade de politicas desenvolvimentistas que permitam a fixação da população, a consolidação e diversificação do aparelho produtivo regional e o aumento da participação regional no PIB nacional.
     Temos vindo a propor e a reivindicar as politicas capazes de potenciarem vontades e actividades económicas que pelas condições naturais, pelos saberes do nosso povo, pela centralidade da região no contexto ibérico, possam garantir o crescimento económico e o desenvolvimento social.
     Temo-nos batido por um novo Rumo para o país e para o Alentejo.
     Esse caminho só é possível se for travado o desmantelamento do débil tecido produtivo regional, se em lugar de se permitirem ou estimularem os encerramentos de empresas e a destruição dos postos de trabalho, houverem apostas sérias na consolidação e crescimento das actividades económicas que podem ali ser desenvolvidas em pé de igualdade ou melhor que em qualquer outro ponto do território nacional, se conseguirmos defender e valorizar o trabalho e os trabalhadores, se derrotarmos as intenções e os interpretes do grande capital internacional.
     Para o conseguirmos importa reforçar a nossa organização e em particular a nossa capacidade de intervir em cada local de trabalho e em cada ponto do nosso território.
     O Programa de acção em discussão aponta quer os eixos fundamentais para o desenvolvimento do país e das regiões quer os caminhos necessários ao reforço da nossa acção organizada e ao aumento da luta que é imprescindível ser travada.
     Todo o capítulo 5 e a aposta clara na Acção Sindical Integrada são disso exemplo.
     No Secretariado Inter Regional do Alentejo, estrutura da CGTP-IN que integra as três Uniões Distritais da Região, entendemos ser absolutamente necessário melhorar e incentivar a reivindicação nos locais de trabalho, esclarecer e mobilizar os trabalhadores nas empresas e serviços e afirmar a contratação colectiva como direito inalienável dos trabalhadores.
     Sabemos também que tal só será possível com o reforço da organização sindical de base e com o entendimento que o sindicato é sempre onde estiverem os trabalhadores, independentemente do seu número e do local onde fica situada a sede.
     O Programa de acção tem nele inscritas todas estas preocupações e define linhas de trabalho que podem (e devem) garantir o uso eficiente dos recursos e permitirem um aumento da participação dos trabalhadores na vida sindical. Por isso receberá o nosso apoio.

Camaradas Delegados e Convidados

     Os alentejanos e o seu Movimento Sindical têm estado presentes de forma empenhada em todas as grandes e pequenas lutas que tem vindo a ser travadas, dentro e fora da região. Lutas que visam derrotar as políticas de destruição do aparelho produtivo, da precarização do emprego e da desvalorização do trabalho e dos salários e que destacamos: as lutas em defesa do poder local democrático, as lutas das populações pelo direito à saúde e em particular as travadas em Vendas Novas e Avis, e a participação empenhada e eficaz na greve geral de 24 de Novembro.
     Não vamos parar!
     É a nossa história – do povo e da região -  que nos ensina que ali naquelas “terras de  pão” sempre a tirania (fosse qual fosse e partisse de onde partisse) encontrou a resistência necessária a impedir o seu desenvolvimento e a garantir-lhe a derrota.
     É a necessidade de garantirmos as politicas e as medidas que sabemos serem fundamentais para inverter a situação para onde nos empurraram, que nos exige que continuemos a luta contra a exploração, as desigualdades e o empobrecimento na região e no país.
     Hoje e aqui, reafirmamos quer a necessidade de se garantirem os meios e as politicas necessárias ao desenvolvimento da nossa agricultura, incluindo a implementação de uma nova Reforma Agrária com a entrega da terra a quem a trabalha, ao implementar de uma politica de reindustrialização da Região, de acções coerentes de melhoria da nossa atractividade turística, da melhoria do ensino e da formação profissional, e da valorização do trabalho e dos trabalhadores, quer o nosso empenhamento para implementar e desenvolver as decisões do nosso congresso.
     Porque assim construiremos o Alentejo que sonhámos!
     Porque assim consolidaremos um Portugal Desenvolvido e Soberano, com trabalho e com direitos.
     Viva o XII Congresso
     Viva a CGTP-INTERSINDICAL NACIONAL!




sexta-feira, 13 de janeiro de 2012


O ano anterior mostrou-se extremamente penalizador para a maioria dos norte alentejanos.
O desemprego atinge cerca de 10 mil trabalhadores e trabalhadoras e foram encerradas empresas fundamentais para o futuro deste território.
Os trabalhadores e os seus sindicatos bateram-se ao longo de todo o ano contra as injustiças e os resultados das politicas que a partir do governo central nos tem vindo a ser impostas e se é um facto que as perdas de direitos e de condições foram agravadas não é menos verdade que foi a acção dos trabalhadores que, pelo menos, atrasou a sua implementação ou obrigou a recuos significativos dos governos e dos (seus) patrões.
É, por isso, perfeitamente compreensivel a leitura feita pela União dos Sindicatos do Norte Alentejano acerca do papel dos sindicatos e dos seus trabalhadores na defesa dos direitos e das condições de vida que ainda se conseguiram manter.
Para 2012 o tempo não será de grandes avanços ou de facilidades. Para os trabalhadores e os seus sindicatos vai ser um tempo de resistência mas, como foi decidido no Plenário de dia 11 de Janeiro não poderá ser um resistência à mudança. Bem pelo contrário o que se impõe aos trabalhadores e às suas organizações é a resistencia para mudar:mudar de modelos de desenvolvimento, mudar de politicas e, em muitos casos mudar de políticos.
É este o desafio que 2012 nos coloca.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

ALENTEJO TERRA DE LUTA!


Estala um movimento grevista dos assalariados rurais do Alentejo, como protesto contra a falta de cumprimento, por parte dos agrários, dos salários que haviam sido tabelados três meses antes. Em Évora, o movimento generaliza-se rapidamente, alastrando a outros trabalhadores, difundindo-se de igual modo pelas povoações do distrito e alargando-se a Beja. Face à persistência dos grevistas, o Governador Civil, Paulino de Andrade, mandou encerrar a Associação dos Trabalhadores Rurais, registando-se prisões de vários grevistas, os elementos mais activos, ao mesmo tempo que fazia avançar a cavalaria contra os trabalhadores em greve. Os delegados das associações operárias decidem proclamar a greve geral. As autoridades encerram as sedes de outras associações operárias, registando-se confrontos entre os grevistas e as forças da GNR e do Exército, de que resultaram vários feridos e um morto.
In Fundação Mário Soares – Arquivo & Biblioteca


A 1 de Janeiro de 1912 eclodia em Évora a segunda Greve Geral dos Rurais do Alentejo (a primeira tivera lugar em Junho do ano anterior), como resposta ao não cumprimento pelos agrários dos acordos firmados três meses antes.

Esta greve e a brutal repressão que se abateu sobre os rurais de Évora, teve uma importância enorme na sociedade portuguesa de então pois desencadeou uma onda de solidariedade por todo o país levando à proclamação da Greve Geral e à confirmação da ruptura entre a Republica, recentemente proclamada, e os operários organizados.

Portalegre não ficou indiferente a estes acontecimentos.

A 20 de Janeiro, na Cooperativa Operária, realiza-se uma assembleia convocada pelas associações de classe dos Corticeiros, Manufactores de Calçado e Alvanéus, destinada a apoiar os trabalhadores em greve, seguindo-se uma manifestação para o Governo Civil[1].

No decorrer dessa manifestação são presos 8 trabalhadores: Gervásio Augusto Madeira, António Teixeira, Manuel Esquetim, Carlos Pereira Ramos, Joaquim Maria Carrapiço, António Soares, Francisco Cabecinha e Domingos Baptista, mantidos em prisão até 16 de Maio.[2] Também por estas prisões e pela intensa acção sindical e de solidariedade com os operários presos, Portalegre integra esse movimento que coloca os trabalhadores e as suas associações de classe no centro da actividade social e política.

A greve geral virá a ser derrotada pela força das canhoeiras, pelas cargas de cavalaria, pela prisão e degredo de centenas de trabalhadores e pelo assassinato de alguns deles, mas o sinal fora dado. A partir de então os rurais entravam decididamente na luta sindical e o movimento sindical portalegrense rompia definitivamente as amarras com o mutualismo, esquecia as promessas dos republicanos e abraçava o Sindicalismo Revolucionário.

Um século depois, os trabalhadores alentejanos e em particular do norte-alentejano confrontados com os resultados do modelo de desenvolvimento imposto pelos partidos do chamado arco da governação retomam a necessidade de cortar amarras com as promessas da direita e do PS e tomar em mãos o seu futuro e o da região.

Cem anos depois dos acontecimentos que ditaram o “divórcio” do operariado com o discurso republicano é-nos colocada a necessidade de romper com pessoas e organizações que não quiseram manter a nossa região nos caminhos do desenvolvimento e tomarmos em mãos a construção do nosso próprio caminho.

É o tempo de acreditarmos que existem caminhos alternativos àqueles por onde nos têm conduzido e, sobretudo, que os caminhos novos podem e devem ser encontrados sem necessidade de “guias” ou “condutores”.

É o tempo de reforçar a capacidade regional de fazer ouvir a voz e o querer dos norte-alentejanos.




[1] Ventura, António – Subsídios para a História do Movimento Sindical Rural no Alto Alentejo, 1976
[2] Matias, Elias – Alentejo em Luta, 1985