EM TEMPO DE TRANSIÇÃO
Escrevo nas últimas horas de 2023
o texto que só vos chegará nos primeiros dias de um próximo ano. É o tempo de
transição entre o “velho” e o “novo”. O fim de um “annus horribilis” e o início de uma nova
oportunidade.
Quando quase mecanicamente
desejamos ao outro “Feliz Ano Novo” limitamo-nos, por norma, a cumprir um
ritual. Viramos uma página do calendário, embriagamo-nos de festarolas e
apressamo-nos a cometer os mesmíssimos erros que condenaram o ano findo.
E como estamos, todos, carentes
de uma oportunidade nova, como importava que entendêssemos o Novo Ano como uma
oportunidade de fazer diferente, de fazer melhor.
Quando aos primeiros minutos do
ano que para cada um de nós começa ali, na histeria coletiva com que tentamos
esconder o óbvio e desejamos a nós mesmos e a cada um dos que nos rodeiam um
Ano Melhor, não nos preocupamos, nem por um instante a tentar perceber o que
faríamos de diferente para conseguir tal desejo.
No frenesim do momento muitos
esquecem que nos despedimos de um Ano cujos maus resultados ultrapassaram as
nossas piores expectativas: um mundo devastado pelas guerras que o ódio e a
ganância impuseram por todos os continentes; um Planeta à beira do colapso
ambiental, com o capital a manter-se cego e surdo, face ao aproximar galopante
do ponto de não retorno.
No nosso território, País e
Região, foi um ano de regressão social e do desbaratar de oportunidades. Oportunidades
políticas com o Partido Socialista a fazer da sua maioria absoluta um
instrumento de sobressalto e um veículo de aceleração das políticas de classe
sonhadas à direita mas que este executou transvertidas de esquerda e cujas
consequências estão à vista com o agudizar e multiplicar de crises na saúde, no
ensino, na habitação, nos transportes, nos apoios sociais aos mais fragilizados
e no empurrar para a pobreza muitos milhares de trabalhadores que, apesar de
trabalharem não conseguem fazer face às despesas do dia-a-dia.
Regressão e desbaratamentos cujos
resultados adquirem no Alto Alentejo uma ainda maior dureza fruto da nossa
própria fragilidade e da disseminação dos erros, incompetências e “crimes”
levados a efeito pelas várias extensões do Poder Central sob o alheamento
cúmplice das estruturas locais dos mandantes nacionais.
O resultado é dramático e pode
ser ilustrado com uma única situação: O círculo eleitoral de Portalegre, o
menor de todos eles e que só elege dois deputados, tem agora ainda menos eleitores
que nas eleições de há dois anos e claro, menos cidadãos residentes.
Um Novo Ano é sempre um renovar
de esperança. Em 2024, para o país e para a região, mais que esperança é uma
oportunidade que não podemos desbaratar.
Arrastados para uma crise
politica pelos que conseguiram transformar uma maioria parlamentar num
constante viveiro de problemas e de instabilidade, temos agora a possibilidade
de arrepiar caminho: condenar nas urnas quem deu sobejas provas de não honrar a
palavra dada, quem nos conduziu para o desastre.
E não vale a pena limitarmo-nos à
condenação de quem desbaratou a nossa confiança. É fundamental que não os
substituamos por outros que serão diferentes, na intensidade e na velocidade
com que nos empurrarão paro o caos.
Dois mil e vinte e quatro só será
oportunidade e mudança se conseguirmos, desta vez, despir-nos do preconceito e
da cegueira ideológica e dermos uma oportunidade a nós próprios elegendo quem está,
nas boas e nas más horas, na nossa rua, no nosso emprego, na nossa vida, sempre
ao nosso lado.
É difícil encontrá-los? Olhe que
não! Dispa-se de preconceitos, rebobine o filme com as posturas dos vários
partidos na Assembleia da República, recorde o que foram as promessas
eleitorais em 2015 e as práticas desenvolvidas.
Façamo-lo, a hora é de coragem!
Diogo Júlio Serra