SEMEAR ABRIL
Mais que o bonito título que o Grupo de Cantares de Portalegre escolheu para o espectáculo com que nos acolherá no CAEP no Dia da Liberdade para na companhia de João Santos, celebrarmos o 49º aniversário do 25 de Abril é uma necessidade.
Semear, tratar e colher são tarefas bem conhecidas de quantos como nós alentejanos, nascemos e crescemos neste território, bebemos e vivemos a sua ruralidade, brincámos junto aos campos semeados, partilhámos alegrias e cansaços de quantos se afadigavam em trocar a secura das terras em fartas e loiras searas e depois, garantiam a passagem de cada grão de trigo ao pão que alimentou e alimenta as nossas gentes.
É por conhecermos tão bem esse processo e por termos vivido a profunda transformação que Abril permitiu que estamos certos da necessidade, mas também da possibilidade de semear, tratar, colher e distribuir os seus valores e as suas conquistas.
E não vos falo da Revolução e dos sonhos que nos permitiu, nem dos ataques de que foi alvo desde a primeira hora. Muito menos de actos e pessoas que desde a primeira hora conspiraram, boicotaram e mataram para que não pudesse vingar. Não, falo-vos tão só desse dia “ inteiro e limpo” que abriu as portas das prisões, rompeu as mordaças da censura e do medo, trocou as chapeladas pelo voto directo secreto e livre, permitiu a livre associação de pessoas e organizações, descriminalizou o direito à greve e permitiu o início da emancipação da mulher.
Para que entendamos a necessidade
de Semear Abril, falar-vos-ei tão só dos direitos, liberdades e garantias
vertidas e mantidas na Constituição da Republica Portuguesa. A mesma que
ciclicamente os cidadãos investidos no cargo de Presidente da Republica juram
defender, cumprir e fazer cumprir… juramento que ciclicamente esquecem no
imediato.
E, por isso mesmo, importa Semear Abril.
Semear, colher e disseminar os
valores de Abril. Criar e formar cidadãos que intervenham e garantam que se
cumpra Abril e a Constituição:
- Que o direito a habitação, ao trabalho com
direitos, à educação, à saúde, à paz não sejam apenas slogans mas sejam
efectivados.
- Que a Regionalização seja cumprida em vez dos
“arremedos” anunciados como descentralização mas que de facto apenas
descentralizam problemas enquanto centralizam o poder de decidir e os
meios para agir.
- Que o desenvolvimento harmonioso do país se concretize
em vez do contínuo acentuar de diferenças entre territórios e populações.
Sejamos capazes de garantir essa
seara. Consigamos provar a razão do poeta revolucionário quando escreveu no seu
poema “As Portas que Abril Abriu”.
“… e se Abril ficar distante
desta Terra e deste Povo
nós temos força bastante
p’ra fazer um Abril Novo.”
Que viva Abril!
Diogo Serra
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