quarta-feira, 12 de abril de 2023

SEMEAR ABRIL

 




SEMEAR ABRIL

Mais que o bonito título que o Grupo de Cantares de Portalegre escolheu para o espectáculo com que nos acolherá no CAEP no Dia da Liberdade para na companhia de João Santos, celebrarmos o 49º aniversário do 25 de Abril é uma necessidade.

Semear, tratar e colher são tarefas bem conhecidas de quantos como nós alentejanos, nascemos e crescemos neste território, bebemos e vivemos a sua ruralidade, brincámos junto aos campos semeados, partilhámos alegrias e cansaços de quantos se afadigavam em trocar a secura das terras em fartas e loiras searas e depois, garantiam a passagem de cada grão de trigo ao pão que alimentou e alimenta as nossas gentes.

É por conhecermos tão bem esse processo e por termos vivido a profunda transformação que Abril permitiu que estamos certos da necessidade, mas também da possibilidade de semear, tratar, colher e distribuir os seus valores e as suas conquistas.

E não vos falo da Revolução e dos sonhos que nos permitiu, nem dos ataques de que foi alvo desde a primeira hora. Muito menos de actos e pessoas que desde a primeira hora conspiraram, boicotaram e mataram para que não pudesse vingar. Não, falo-vos tão só desse dia “ inteiro e limpo” que abriu as portas das prisões, rompeu as mordaças da censura e do medo, trocou as chapeladas pelo voto directo secreto e livre, permitiu a livre associação de pessoas e organizações, descriminalizou o direito à greve e permitiu o início da emancipação da mulher.

Para que entendamos a necessidade de Semear Abril, falar-vos-ei tão só dos direitos, liberdades e garantias vertidas e mantidas na Constituição da Republica Portuguesa. A mesma que ciclicamente os cidadãos investidos no cargo de Presidente da Republica juram defender, cumprir e fazer cumprir… juramento que ciclicamente esquecem no imediato.

E, por isso mesmo, importa Semear Abril.

Semear, colher e disseminar os valores de Abril. Criar e formar cidadãos que intervenham e garantam que se cumpra Abril e a Constituição:

  • Que o direito a habitação, ao trabalho com direitos, à educação, à saúde, à paz não sejam apenas slogans mas sejam efectivados.
  • Que a Regionalização seja cumprida em vez dos “arremedos” anunciados como descentralização mas que de facto apenas descentralizam problemas enquanto centralizam o poder de decidir e os meios para agir.
  • Que o desenvolvimento harmonioso do país se concretize em vez do contínuo acentuar de diferenças entre territórios e populações.

Sejamos capazes de garantir essa seara. Consigamos provar a razão do poeta revolucionário quando escreveu no seu poema “As Portas que Abril Abriu”.

“… e se Abril ficar distante

desta Terra e deste Povo

nós temos força bastante

p’ra fazer um Abril Novo.”

Que viva Abril!

Diogo Serra

 

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