Em Abril, Falar de Abril!
Quarenta e nove anos depois,
o país ainda encontra razões para Comemorar Abril. E tem razão!
Apesar dos inúmeros golpes
que o mutilaram, dos atropelos e dos desrespeitos continuados, Abril e os
sonhos que nos permitiu, continua vivo no coração e no dia-a-dia das pessoas.
Também por isso a razão de
se multiplicarem festejos e comemorações. Tantos a afadigarem-se para
garantirem a pose na foto do dia e muitos outros, os que nunca lhe perdoaram, a
intensificarem as manifestações de ódio, mesmo que escondidas por detrás de mil
diferentes justificações.
De registar ainda haverem
entre os que o comemoram, quem não se cansa de concentrar elogios nos que
designam (agora) como heróis quando, tantas vezes, ofenderam e maltrataram
esses mesmos que agora dizem venerar.
Entre as sinceras
manifestações de apreço e a histeria de colagem a um dia que passadas 24 horas
irão esquecer, registe-se a voz de um dos mais prestimosos membros do MFA a colocar
a verdade que alguns teimam em esquecer:
“Movimento Coletivo…é a essência do MFA. Nada mais.
Há militares com coragem e força de aço…Todos cumpriram…menos um tal JN…E o
grande herói é o Povo Português”.
Tão verdade! Antes,
durante e depois de Abril.
Antes quando com a sua resistência e
luta manteve acesa a chama da liberdade e quantos dos seus filhos pagaram com a
vida a manutenção dessa chama.
Durante o próprio dia quando souberam
desobedecer aos comunicados do próprio Movimento que aconselhavam a ficar em
casa e inundaram praças e avenidas colando-se aos militares, apoiando-os e
desafiando-os a passarem da golpe militar à Revolução.
Depois, dia a dia, ano a ano, até hoje.
Conquistando direitos, resistindo a cada golpe, defendendo Abril e a
Constituição que o consagra, semeando e consolidando a democracia conquistada.
Que não tem sido tarefa fácil todos o
reconhecemos.
Hoje, quarenta e nove anos depois, com
as suas principais conquistas vertidas na Constituição da Republica e apesar do
empenho popular e das necessidades do país, muitos dos direitos conquistados
continuam sem serem efetivados e alguns foram mesmo “arrumados em gavetas” ou
eliminados.
Ao arrepio da Lei Fundamental e dos
valores de Abril, as politicas de direita recolocaram as regras do capitalismo,
ou “do mercado” como gostam de dizer e foram mutilando os direitos até os
“saudosistas” se sentirem, como agora, com o à vontade necessário para saírem
da “clandestinidade” onde se moviam e virem abertamente exigir a destruição dos
direitos e conquistas e a própria democracia conquistada com Abril.
Se dúvidas ainda houvessem bastar-nos-ia
recordar os ataques movidos às próprias Comemorações de Abril na casa da
Democracia.
Num ano a desculpa foi a pandemia, no
seguinte foi a designação do Presidente da Comissão Organizadora do
Cinquentenário, agora o convite a um Chefe de Estado. Tudo lhes justifica o
combate porque o motivo é tão só o 25 de Abril e o que ele trouxe a Portugal e
aos Portugueses.
Os valores que cabendo numa única frase
preenchem a vida e os sonhos de todo um povo: O Pão, a Paz, Educação, Saúde,
Habitação, a Liberdade de Mudar e Decidir e o sonho de que um dia seja dado ao
povo o que o povo produzir!
Não lho permitamos. Comecemos hoje as
celebrações do cinquentenário da forma como o vivemos no seu dia primeiro, com
mil sonhos… e a capacidade de lutar por eles.
VIVA O 25 DE ABRIL!
Diogo Júlio Serra