quarta-feira, 29 de março de 2023

Não somos um país pobre, somos um país que foi empobrecido.

 

Não somos um país pobre, somos um país que foi empobrecido.


Nos últimos dias nos diversos canais de televisão os chamados “opinadores” têm escalpelado os documentos ou as intenções do governo apresentadas com o objectivo de minimizar as enormes dificuldades de quem vive do seu trabalho em esticar o magro orçamento das famílias. Fazem-no, ao que parece, na esperança de o poderem descredibilizar não pelo que ele possa ou não valer mas pela sua (deles) necessidade de menorizar o governo num processo há muito denunciado de “o cozer em lume brando” até que encontrem à direita quem e como possam ser os actores para a alternância.

Cumprem apenas a vontade de quem os alimenta. Agora o alvo é o governo e a necessidade de o descredibilizar abrindo caminho à direita pura e dura tentando dar-lhe alguma credibilidade, que manifestamente não tem, e que impede o seu Presidente da Republica de avançar com a demissão da Assembleia.

Num tempo em que os portugueses sofrem uma brutal inflação que os salários e pensões não acompanham e quando muitos deles, mesmo trabalhando, não conseguem garantir o pão, a habitação e a saúde enquanto os 5% mais ricos apropriam-se de 48% da riqueza produzida em Portugal, estes ataques ao governo não são, muito pelo contrário, a contestação das políticas de direita que este impõe a quem trabalha ou trabalhou.

Esta estratégia de descredibilizar o governo é tão só um detalhe no combate que movem a Abril e ao seu significado. Não querem perceber que a situação a que anos de rapina nos conduziram não pode e não vai continuar!

Acresce a isto que o actual governo não precisa que o descredibilizem. Ele próprio encarrega-se disso.

Ao recusar a continuação da convergência à esquerda e usando a sua maioria para retroceder nos caminhos e politicas que procuravam consolidar direitos de cidadania e menos desigualdades entre pessoas e entre territórios, o governo e a sua maioria escolheram ser reféns dos que agora em nome da alternância aguardam o momento certo para os afastarem do poder.

Optou por ser actor menor das políticas da EU e internamente, manajeiro dos interesses do grande capital de quem a própria União Europeia é instrumento e refém e, por isso, deixou de ter o “amparo” do mundo do trabalho sem conquistar o respeito dos sectores a quem verdadeiramente beneficia.

A sua posição face à decisão do BCE de voltar a aumentar as taxas de juro é ilustrativa.

O apoio a esta medida que está a infernizar a vida de mais de um milhão de famílias que têm empréstimos à habitação, ao mesmo tempo que os bancos anunciam lucros recorde, como se verificou no último ano com os cinco principais bancos nacionais: lucros de mais de 2,5 mil milhões de euros que representou uma subida de mais de 81% face ao ano anterior.

O mesmo no que respeita ao aumento especulativo dos preços e à perda do poder de compra face à inflação que já ultrapassou os 8 %. As políticas do governo têm como resultado a privação para milhares de trabalhadores e reformados em acederem a bens essenciais como a comida. Constata-se que para um número crescente de pessoas não é possível ter mais que uma refeição quente por dia.

À inflação de 8,1%, a maior das últimas décadas, acresce o facto conhecido que esta não afecta todos da mesma forma. Esta reflecte a evolução dos preços de um conjunto de bens e serviços. As famílias de baixos rendimentos são muito mais afectadas, porque há um conjunto de bens e serviços de que já não tinham condições de adquirir e aquilo que é básico, a alimentação, a energia, tiveram aumentos bem superiores ao aumento da inflação: os lacticínios aumentaram 25%; as frutas e legumes mais de 30%; a carne e o peixe mais de 20%.

Esta é uma realidade que contrasta com os colossais lucros obtidos pelos grupos económicos, alguns com valores recorde:

A GALP obteve lucros recorde de 881 milhões de euros.

A EDP obteve 681 milhões de euros de lucro.

Os lucros da Sonae e do Jerónimo Martins nos primeiros nove meses de 2022 aumentaram mais de 30%.

As seguradoras aumentaram os seus lucros em 39%, para 900 milhões de euros.

O Banco Santander duplica o lucro para 568 milhões de euros.

Os lucros do BPI aumentam em 50% para 207 milhões de euros.

Dizem-nos que é assim por causa da guerra, da inflação, como se não fosse possível fazer nada, como se fosse uma fatalidade. Dizem lamentar as desigualdades, mas que não há outra solução como se estivéssemos condenados a esta política de baixos salários e ao contínuo empurrar das famílias e dos territórios para o empobrecimento e a exclusão.

Não é verdade. A situação que vivemos é o resultado de opções políticas que apostam em priorizar o lucro, a acumulação da riqueza nas mãos de uns poucos mesmo que para isso empurre para a pobreza milhares de trabalhadores e as suas famílias.

Esta é a natureza capitalismo e de quem o defende e pretende perpetuá-lo. Não é, nunca será uma fatalidade!

Assim o queiramos!

sexta-feira, 3 de março de 2023

CONSTRUAMOS A PAZ!

 

Façamos Guerra à Guerra. Construamos a PAZ!

“À guerra não ligues meia

Porque alguns grandes da terra

Vendo a guerra em terra alheia

Não querem que acabe a guerra.”

 


Cumpre-se hoje, data em que escrevo, um ano desde o dia em que o exército russo invadiu a Ucrânia dando inicio ao que a Federação Russa apelidou de “operação especial para a desmilitarização e desnazificação da Ucrânia” e acabar com oito anos de guerra”.

Mais um capítulo do que sabemos hoje, dolorosamente, tratar-se de uma guerra entre a Rússia e o chamado Ocidente alargado (USA, Nato, EU). Uma guerra (mais uma) em que os falcões nos arrastaram e que volta a ter como palco o território europeu.

O “saldo” em mortes, destruição e pobreza ilustra a dimensão da tragédia e os “pagantes” são, como sempre, as populações dos territórios dilacerados, mais as vitimas dos chamados danos colaterais: as populações dos países, como Portugal, a quem o esforço belicista rouba o pão, o sossego e a segurança, atiçam e estimula ódios de um passado que muitos de nós não esquecemos.

Esta guerra que muitos portugueses só descobriram quando da invasão da Ucrânia pelas tropas russas ou quando os megafones do capital iniciaram a propaganda do ódio, tem por detrás vários anos de confrontações e de mortes.

É um processo que em nada difere do que foi montado na Jugoslávia, no Iraque, na América Latina ou que ainda decorre na Síria e na Palestina.

Na Ucrânia foram usados as mesmas “velhas” receitas: agitação social e violência orientada contra os poderes que não se submetem às diretrizes dos falcões, injeções de dinheiro para quem trai, rotulagem e sanções para quem resiste e de caminho, rapina de bens dos “inimigos”.

Todos conhecemos o processo. Foi usado nos Balcãs para destruir a Jugoslávia, na Síria, no Afeganistão e no Irão inventando nacionalismo ou criando o Daesh. Foi igual na Líbia inventando as revoluções coloridas, no Perú e na Bolívia e no Brasil derrubando os Presidentes eleitos e no Brasil impedindo Lula de concorrer e ganhar as eleições, na Venezuela inventando Gaidós, na Bielorrússia fabricando agitação “democrática”.

Na Ucrânia usaram métodos que nós portugueses conhecemos bem: o assalto à Casa dos Sindicatos, incendiando-a queimando vivos os 39 sindicalistas que a defendiam tem a marca fascista que em Braga incendiou o Centro de Trabalho do PCP, dos assaltos e das bombas que o fascismo aqui semeou em 1975/6.

 Ali, como por cá, eram pró-russos todos quantos se lhes opunham. Ali como por cá, todos sabiam quem eram os responsáveis mas nunca foram julgados. Ali, como por cá já se ensaia, são pró- russos os que se opõem à tentativa de hegemonização do imperialismo.

Hoje, quando é claríssima a necessidade de garantir a Paz é também conhecida a principal razão do seu início e manutenção: garantir o enfraquecimento estratégico da Federação Russa. São as autoridades norte-americanas quem o afirma e, talvez, seja essa a principal justificação para que se diabolizem todas as tentativas de garantir a PAZ se “descarreguem “ cada vez mais armas no teatro da guerra, se diabolizem e se rotulem de pró-russos todos os que exigem a PAZ.

O nosso país, que tenta sempre ser o menino obediente face às ordens de Ianques e U.E, aí está a canalizar o seu esforço para alimentar a máquina de guerra que o seu povo (nós) pagamos em inflação galopante, em aumento escandaloso dos preços de primeira necessidade, em perda acelerada do poder de compra a aumento exponencial da pobreza já bem visível por todo o território.

O Presidente da Republica dá o “toque final” ao decidir atribuir a Ordem da Liberdade ao “manajeiro” de tal estratégia em vez de homenagear os que sofrem com tais acções, os povos da Ucrânia e das regiões russófonas do Donbass.

Até quando?

Diogo Serra