PELA BOCA MORRE O PEIXE...E OS CANDIDATOS TAMBÉM!
Em Portalegre, cidade e distrito, o “aroma”
é já de eleições.
Embora a data ainda não esteja marcada, o
clima vivido já não engana ninguém. São as diferentes forças politicas que se
afadigam para apresentar ou importar os rostos que, darão corpo às suas
candidaturas, são os próprios candidatos a multiplicarem-se em aparições feitas
de forma aberta ou escondidos por detrás de ministros e outros governantes que
num repente, descobriram o Alto Alentejo, quer porque para aqui os trouxeram e
aqui procuram afirmar-se, mesmo quando da região não têm outra noção que não
seja o nome do concelho que lhe soletraram quando do convite/imposição, para
aqui virem defender as cores com que agora se apresentam ou, quer ainda, os que
aqui vêm sem outro objectivo que não seja “limpar cartões” e manter-se “vivo”
até que possa retornar ao concelho de origem.
Alguns, porque mais experimentados ou
avisados, evitam expressar-se para além das iniciativas que os seus aparelhos
montam para mostrar os rostos e esconder as ideias (ou a falta delas) mas
outros há, menos experientes ou mais emotivos, que não resistem a vir a
terreiro dizerem-nos o que pensam ou pretendem e aí “a coisa complica-se”.
Um desses candidatos, (uma candidata) dos
tais que vêem limpar “as faltas”, ou deu um tiro no pé, ou já prestou um
importante serviço aos alentejanos. Num arrebatado discurso de campanha,
afiançou ser Portalegre a única cidade capital de distrito que não é servida
por uma auto-estrada e, de duas uma, ou a candidata anda muito distraída ou já
conseguiu uma auto-estrada para Beja.
Outro, recentemente apresentado como
candidato e por ventura entusiasmado pelo brilho mediático que nunca o tocara
em anteriores desempenhos, fossem os da profissão, fossem os praticados em
associações solidárias, resolveu postar o que pensava (acredito que verdades)
sobre um empresário que não sabia ser próximo do partido que o candidatava.
Soube-o quando recebeu a informação que já não é candidato.
Entretanto, outros mais “sabidos”, atrasam
o anúncio da (re) candidatura mas intensificam a sua campanha, transformam o
concelho num estaleiro de obras adiadas, multiplicam-se na vitimização e
refinam as piores práticas partidárias, a coberto do falso estatuto de
independentes.
A cidade e o concelho assistem a um filme
várias vezes visionado: o mesmo enredo, o mesmo objectivo, os mesmos actores só
que por vezes trocando entre si os papéis a desempenhar e até, em alguns casos
trocando de actores com concelhos vizinhos, “usufruindo” por força das
imposições eleitorais as pequenas “mordomias” que lhes foram sonegadas ao longo
dos últimos anos.
A limpeza das ruas de maior visibilidade, a
repavimentação de algumas crateras em que se haviam transformado estradas e
caminhos, as intervenções de alindamento em que a tinta ou a roçadora procuram
fazer-nos esquecer o passado recente.
Estamos na fase do fingimento. A força política
que detém o poder há quase duas décadas (os últimos 8, sob a capa de grupo não
partidário) afadiga-se em mascarar a sua “falta de jeito” com a estafada tese
de que não os deixam fazer e algumas forças ditas de oposição mas que foram
durante anos, ombro amigo que o poder autárquico concelhio sempre encontrou
disponível, aparecem agora empenhadas em apagar da nossa memória a forma
ziguezagueante de fazer oposição, onde poucas vezes lhe foi possível manter a
unidade de acção e votação entre os seus dois únicos vereadores.
O PSD de cujo ventre saiu a maioria que há
duas décadas dirige a Câmara Municipal, volta a tratar Portalegre da mesma
forma que alguns clubes de futebol encaram as competições menos conceituadas:
voltam a Portalegre para limpar castigos. Foi assim no passado recente em que
trouxeram um autarca de Sousel que “limpas as faltas” (o nº de mandatos que o
impedia de se recandidatar no seu concelho), volta ao concelho de origem tentar
retomar o lugar perdido. Assim vai ser de novo, outra vez.
Até o PS cujo historial na cidade e no
concelho tornava perfeitamente dispensável tal comportamento não resistiu a
partilhar desse “pecado”. Parece ter percebido o erro e não irá repetir,
entretanto o seu autarca, limpas as faltas prepara-se para retomar ao seu concelho,
embora sob a camisola do “independentismo”.
É assim a disputa eleitoral dir-nos-ão
alguns. São todos iguais gritar-nos-ão outros. E no entanto, não é verdade e
nada nos obriga a aceitar que seja assim.
Portalegre, cidade e concelho não pode nem
deve continuar a definhar. Não pode nem deve continuar a perder população,
empregos, serviços, juventude. Não pode nem deve continuar a assobiar para o
lado, enquanto encerram empresas e se destrói o tecido produtivo. Não pode nem
deve fingir que não vê e não sabe que se encerram museus por inépcia de quem
deles devia zelar, se abandona património de cultura e de memória, se adiam
sine dia investimentos fundamentais para a cidade e região, se mantenha a
cidade capital do distrito arredada dos meios de transporte ferroviários e
rodoviários, se assobie para o lado quando a cidade e a região são
ofensivamente afastadas dos planos de distribuição de investimentos e milhões
como esta a suceder com o PRR.
A electrificação da Linha do Leste em toda
a sua extensão e com a alteração do traçado que permita a sua aproximação à
cidade de Portalegre e a garantia de conexão para mercadorias e passageiros com
a linha Sines/CAIA, a eliminação dos pontos negros do atravessamento do
concelho pelo IP2 e a concretização do atravessamento de Estremoz, a par da
concretização de outros importantes investimentos como a Escola da GNR, entre
dezenas de outras medidas, são fundamentais para o nosso futuro colectivo e
justificarão que desta vez, consigamos substituir a inércia pelo pró actividade,
o preconceito pela razão e a indiferença pelo comprometimento e possamos
inverter a marcha.
Podem não existir muitas mais
oportunidades.
Diogo Júlio Serra
(publicado no jornal do alto alentejo de 24-6-21)