Uma quinzena atribulada!
Prá mentira ser
segura,
E atingir
profundidade,
Tem que trazer
à mistura,
Qualquer coisa de verdade...
(António Aleixo)
No distrito e
na região sucederam-se os acontecimentos. Inquietantes, uns, portadores de
esperança, outros, mas todos eles a permitirem-nos aprendizagens diversificadas
mas intensas.
Do ponto de
vista social o distrito e a cidade viram-se atingidos por um surto epidémico
com cerca de 3 dezenas de infetados e com centenas de portalegrenses em
confinamento e sobressalto enquanto persistem e se intensificam os outros
efeitos da pandemia: o desemprego, que em Julho atingia já 6.093
norte-alentejanos, a perda de rendimentos, o medo e as formas de intolerância e
de egoísmo que este potencia.
No plano
politico, cidade, distrito e região foram palco de diferentes iniciativas político-partidárias,
que trouxeram à luz do dia o que de melhor e pior nos podem oferecer. Que
potenciaram a esperança, que estimularam (umas) e combateram (outras) o medo e
a desesperança com que alguns teimam em prendermos.
Ainda neste
plano, o constatar da vontade de uns quantos em procurar enredar-nos com “papas
e bolos”, com propaganda e mentiras.
Entre as
ocorrências de âmbito social na nossa cidade o “palco principal” foi ocupado
com a pandemia que tem virado do avesso a nossa forma de vida. Um foco detectado
num restaurante da cidade, colocou na ordem do dia para além da paralisação de
uma empresa que, dava os primeiros passos no caminho da recuperação e dos
problemas colocados aos infectados, seus familiares e clientes e trouxe à tona o
que de pior existe em cada um de nós com o “diz que diz” a inundar conversas e
redes sociais com a mais abjecta campanha de acusação contra quem necessitava e
necessita de solidariedade e compreensão.
No distrito e
na região o palco foi ocupado pelo regresso do vírus a lares e residências de
idosos e, de novo, com o medo a cegar a inteligência e a permitir e estimular o
dedo acusador no lugar da solidariedade e compreensão e como por todo o país, a reabertura das escolas a exigir-nos uma
considerável coragem e, ao mesmo tempo, a confirmarem-se as inúmeras
insuficiências de há muito detectadas e a justificarem a maior angustia por
parte de pais e professores.
No plano político
registaram-se iniciativas que nos trouxeram alguma esperança de que é possível,
cumprindo as regras sanitárias, voltar a viver. A realização e a forma como
decorreram algumas das iniciativas de massas na Atalaia, (festa do Avante), em
Fátima (peregrinos no santuário), em Lisboa e Porto (feiras do livro) umas mais
“cumpridoras que outras” até pela enorme discussão que geraram permitiram
mostrar-nos que não estamos condenados “à prisão”.
Infelizmente
foram em maior número as que nos deixam apreensivos, sendo a primeira delas a
insistência do governo em fingir que é regionalização a negociata feita entre o
PS e o PPD para dividirem entre si, os capatazes para em seu nome nos imporem
as suas politicas centralizadoras e de divisão do país entre o litoral e o
interior.
No plano do
distrito as diferentes forças político-partidárias voltaram ao terreno
destacando-se o partido do governo que, volta a gritar-nos a partir do seu
congresso ou, pela voz dos deputados que participaram num conclave ibérico “que
agora é que é, agora é que é”: as obras há anos reivindicadas e mil vezes
prometidas vão finalmente avançar e contabilizam em 400 milhões o envelope
financeiro que dizem ter disponível e, na cidade, na nossa cidade persistem as
politicas do “quero, posso e mando” do alheamento dos problemas e do
cumprimento das leis, da destruição do património cultural e da manutenção do
não pagamento dos salários a trabalhadores de empresas do perímetro municipal.
Mas persistem
os sinais de esperança! Quando os promotores do discurso e das políticas da
xenofobia, do racismo e do ódio procuram e anunciam “a tomada do Alentejo”, a
juventude alentejana concentrada na Praça do Giraldo sem Pavor, ao som da Grândola
Vila Morena e armada com cravos de papel, deu-lhes a resposta necessária.
Que este sinal
possa replicar-se na região e no país.
Diogo Júlio
Serra
* Artigo publicado no Jornal do Alto Alentejo em 23-9-2020