domingo, 27 de setembro de 2020

UMA QUINZENA ATRIBULADA!

 

Uma quinzena atribulada!

 


Prá mentira ser segura,

E atingir profundidade,

Tem que trazer à mistura,

Qualquer coisa de verdade...

(António Aleixo)

 

 

No distrito e na região sucederam-se os acontecimentos. Inquietantes, uns, portadores de esperança, outros, mas todos eles a permitirem-nos aprendizagens diversificadas mas intensas.

 

Do ponto de vista social o distrito e a cidade viram-se atingidos por um surto epidémico com cerca de 3 dezenas de infetados e com centenas de portalegrenses em confinamento e sobressalto enquanto persistem e se intensificam os outros efeitos da pandemia: o desemprego, que em Julho atingia já 6.093 norte-alentejanos, a perda de rendimentos, o medo e as formas de intolerância e de egoísmo que este potencia.

 

No plano politico, cidade, distrito e região foram palco de diferentes iniciativas político-partidárias, que trouxeram à luz do dia o que de melhor e pior nos podem oferecer. Que potenciaram a esperança, que estimularam (umas) e combateram (outras) o medo e a desesperança com que alguns teimam em prendermos.

Ainda neste plano, o constatar da vontade de uns quantos em procurar enredar-nos com “papas e bolos”, com propaganda e mentiras.

 

Entre as ocorrências de âmbito social na nossa cidade o “palco principal” foi ocupado com a pandemia que tem virado do avesso a nossa forma de vida. Um foco detectado num restaurante da cidade, colocou na ordem do dia para além da paralisação de uma empresa que, dava os primeiros passos no caminho da recuperação e dos problemas colocados aos infectados, seus familiares e clientes e trouxe à tona o que de pior existe em cada um de nós com o “diz que diz” a inundar conversas e redes sociais com a mais abjecta campanha de acusação contra quem necessitava e necessita de solidariedade e compreensão.

No distrito e na região o palco foi ocupado pelo regresso do vírus a lares e residências de idosos e, de novo, com o medo a cegar a inteligência e a permitir e estimular o dedo acusador no lugar da solidariedade e compreensão e como por todo o país,  a reabertura das escolas a exigir-nos uma considerável coragem e, ao mesmo tempo, a confirmarem-se as inúmeras insuficiências de há muito detectadas e a justificarem a maior angustia por parte de pais e professores.

No plano político registaram-se iniciativas que nos trouxeram alguma esperança de que é possível, cumprindo as regras sanitárias, voltar a viver. A realização e a forma como decorreram algumas das iniciativas de massas na Atalaia, (festa do Avante), em Fátima (peregrinos no santuário), em Lisboa e Porto (feiras do livro) umas mais “cumpridoras que outras” até pela enorme discussão que geraram permitiram mostrar-nos que não estamos condenados “à prisão”.

Infelizmente foram em maior número as que nos deixam apreensivos, sendo a primeira delas a insistência do governo em fingir que é regionalização a negociata feita entre o PS e o PPD para dividirem entre si, os capatazes para em seu nome nos imporem as suas politicas centralizadoras e de divisão do país entre o litoral e o interior.

No plano do distrito as diferentes forças político-partidárias voltaram ao terreno destacando-se o partido do governo que, volta a gritar-nos a partir do seu congresso ou, pela voz dos deputados que participaram num conclave ibérico “que agora é que é, agora é que é”: as obras há anos reivindicadas e mil vezes prometidas vão finalmente avançar e contabilizam em 400 milhões o envelope financeiro que dizem ter disponível e, na cidade, na nossa cidade persistem as politicas do “quero, posso e mando” do alheamento dos problemas e do cumprimento das leis, da destruição do património cultural e da manutenção do não pagamento dos salários a trabalhadores de empresas do perímetro municipal.

 

Mas persistem os sinais de esperança! Quando os promotores do discurso e das políticas da xenofobia, do racismo e do ódio procuram e anunciam “a tomada do Alentejo”, a juventude alentejana concentrada na Praça do Giraldo sem Pavor, ao som da Grândola Vila Morena e armada com cravos de papel, deu-lhes a resposta necessária.

Que este sinal possa replicar-se na região e no país.

 

Diogo Júlio Serra

* Artigo publicado no Jornal do Alto Alentejo em 23-9-2020

sábado, 12 de setembro de 2020

Entre o Decreto burla (?) e a gestão de expectativas!


 

Entre o decreto burla(?) e a gestão de expectativas!*

No passado dia 17 de Junho em opinião aqui publicada interrogava-me sobre a “bondade” da acção legislativa do governo para a denominada (mal) democratização das CCDR’s ou como outros preferem dizer, do primeiro passo da regionalização.

Passados quase três meses vamos conhecendo quer as “negociatas” dos partidos do centrão para dividirem entre si, as presidências e no que à nossa região diz respeito, ao aparecimento formal ou insinuado dos candidatos que se perfilam, quer os muitos milhões (por enquanto virtuais) que o país e as regiões irão ter para investir.

Uma e outra das situações descritas não podem deixar-nos adormecidos.

Quanto à eleição das CCDRs  confirma-se a nossa preocupação relativa a um novo “Decreto-burla”. O facto de antecipadamente os diretórios do PS e do PSD terem dividido entre si as presidências das CCDRs é motivo suficiente, mas há pior. Estas estruturas continuarão a ser, como até aqui, meros departamentos dos governos centralistas.

Não importa que esteja ou vá para a Presidência um adepto do centralismo ou um regionalista confesso, o que importa  é que cada CCDR continuará a ser como até agora, um órgão da administração desconcentrada do Estado, mantendo –se sob a dependência total do governo.  Este terá o direito de nomear diretamente um dos dois vice-presidentes e, se o entender necessário, (leia-se se o Presidente “se esquecer de atender o telefone ou não perceber o que lhe é dito”) demitir o Presidente eleito.

Em Portalegre, cidade e sub-região, conhecemos bem o que significam tais “direitos” dos governos. Não esquecemos as posições tão assustadoramente desiguais dos Srs. Juan Carlos Ibarra e Carmelo Aires quando da inauguração da nova Ponte da Ajuda ou mais recentemente, as barreiras e boicotes que esteve sujeita a candidatura e presidência do “nosso” João Transmontano na CCDR Alentejo e da mudança da lei para impedir que mais “transmontanos” fossem possíveis.

A segunda, a sementeira de expectativas, com os muitos milhões que “se aproximam”.

Num momento em que parece estar tudo em questionamento. Quando o governo de António Costa incumbiu um outro António para elaborar uma proposta estratégica para a recuperação económica de Portugal 2020-2030, já apresentada e em discussão, quando se anunciam todos os dias obras, investimentos e chuva de euros… é hora de arregaçar as mangas, aguçar o engenho e não ficarmos a ver passar comboios.

É importante que se reconheça (e corrija) “que o modelo de desenvolvimento económico e social actual , baseado no consumo exponencial de recursos, na concentração da riqueza, no aumento galopante das desigualdades e na crescente destruição ambiental, não é sustentável e deve ser mudado.”[i] Mais, “as visões liberais extremistas que prevaleceram no passado conduziram o país à perda de grande parte da sua indústria e a um certo culto de desprezo pelos recursos nacionais.[ii] .

É importante mas não é suficiente. O distrito de Portalegre tem que ver garantida a resolução dos problemas criados e mantidos pelas opções erradas dos governos centrais e centralistas e ver garantidos investimentos públicos e políticas que potenciem os nossos recursos e capacidades e nos permitam romper as fronteiras que nos mantém isolados de outras regiões e comunidades, do desenvolvimento e do futuro.

Importa que se concretizem os projectos tantas vezes anunciados e adiados e desde logo a construção do empreendimento de fins múltiplos do Pisão e a electrificação e modernização da Linha Ferroviária do Leste, entre Abrantes e o Caia, com a alteração do traçado que a aproxime da cidade de Portalegre e com a garantia de ligação à linha rápida em construção entre Sines e Caia.

Que se termine de vez o IC 13 e se garantam eixos de ligação em perfil de auto-estrada entre a A6 (Elvas/Campo Maior) e A23 (Portalegre/Nisa e Gavião e a ligação rodoviária Estremoz/Avis/Ponte Sor/Abrantes. Que a aspiração e necessidade de toda a região numa ligação Nisa/Cedillo, através de uma ponte sobre o Tejo ou o Sever seja concretizada e, também, que se aposte na reindustrialização do distrito, potenciando quer os recursos endógenos, quer a existência de cultura operária bem sedimentada na cidade de Portalegre.

O Presidente do NERPOR veio na passada semana, nas páginas deste jornal, desafiar o distrito a envolver-se na discussão deste e outros problemas para que a sua voz possa fazer-se ouvir.

Concordo! Como ele defendo desde há muito, que só podemos minimizar a falta de peso económico e político que nos caracteriza se conseguimos fazer da unidade de acção a força que nos falta.

É a hora. Vamos ao trabalho!

Diogo Júlio Serra

* publicado no Jornal Alto Alentejo de 9-9-2020

[i]                       Documento de autoria de António Costa Silva, pág. 24

[ii]                      Documento citado, pág. 91.