Vê Moinhos, são Moinhos!
Vê Gigantes, são Gigantes!*
“A
censura do Estado Novo é herdeira direta da Ditadura Militar
triunfante em 28 de Maio de 1926. O regime ditatorial suprimiu todas as
liberdades democráticas da República liberal incluindo a liberdade de imprensa
estabelecendo a censura aos jornais, livros e espectáculos, nomeadamente o
cinema e o teatro. … passando no
Estado Novo a ter uma base essencialmente distrital num aparelho
fortemente centralizado, primeiro subordinado ao Ministério da Guerra, depois
ao Ministério do Interior e desde 1944 à Presidência do Conselho,
isto é, ao próprio ditador Oliveira Salazar.”
(texto retirado da wikipedia.org/wiki/Censura_em_Portugal)
A liberdade de expressão e a liberdade de
imprensa conquistadas com o 25 de Abril viriam a ser consagradas na
Constituição de 1976 (artºs 37º e 38º).
Quarenta e cinco anos depois de Abril e com
quarenta e três anos de vigência da Constituição da Republica que o consagra
voltam a ser postas em causa por quantos se mantém fiéis à letra e aos
interesses da constituição de 1933.
É certo que não se trata de um fenómeno
recente. Desde que a liberdade foi reposta por diferentes vezes, a liberdade de
expressão e de publicação foram assombradas pelo fantasma da censura, fruto da
ação direta do poder político do momento ou pela ação menos visível mas
igualmente eficaz, dos lobbies emanados do poder político ou financeiro.
São conhecidos alguns dos mais significativos
desses momentos: as “entrevistas históricas” de Miguel Esteves Cardoso, dois
livros do humorista Augusto Cid, o veto do então Secretário de Estado ao
romance do Nobel, José Saramago e conhecem-se as formas mais ocultas de impor a
censura na comunicação social escrita e falada, em particular nos territórios
do interior, jogando com os euros para “domesticar” os menos dóceis.
Apesar disso, a nossa comunicação social
regional e local, em particular a sedeada na nossa cidade vem desde há muito,
num caminhar que, sem poder deixar de pensar na sua própria sobrevivência,
honra o jornalismo e os jornalistas que souberam resistir às pressões e às
chantagens.
Portalegre sempre teve no seu seio jornais e
jornalistas que independentemente dos lobbies e do posicionamento
político-religioso dos seus proprietários se souberam assumir como instrumentos
de defesa da sua região, como difusores das diferentes opiniões em presença,
como arma e voz dos que não tinham voz, como instrumento de contrapoder.
Recordo-vos apenas dois dos que viveram Abril e
os anos que se lhes seguiram: O Distrito de Portalegre, ligado à Igreja
Católica e a Rabeca, jornal republicano e assumidamente porta-voz dos
opositores ao Salazarismo. Neste último aprendi a percorrer semanalmente,
inúmeras vezes, o caminho entre a rua 19 de Junho (sede da Editorial Rabeca,
S.A.) e o cimo da Av. da Liberdade (residência do censor) para levar os vários
textos a inserir no semanário.
Hoje, por vicissitudes várias, Portalegre
dispõe apenas de dois órgãos de comunicação: uma Rádio e um Jornal semanário.
Ambos lutam pela sobrevivência mas fazem-no de forma bem diferente: a rádio
procura afirmar-se (no que à informação diz respeito) pela diversidade de
opiniões, pela abertura a todas as correntes de pensamento, sem abdicar dos
ideais que a justificam mas procurando que essa postura não interfira com a sua
linha editorial.
O Semanário, afirma-se igualmente como um
projeto jornalístico de defesa dos interesses locais e aberto à participação de
todos e tem procurado honrar esse compromisso. Todavia, em várias ocasiões,
estamos a atravessar um desses momentos, o posicionamento politico-ideológico
do seu diretor e proprietário impõe-se ao jornalista que também é e afasta o
jornal dos caminhos que a si próprio impôs e a que nos habituou a respeitar.
A cobertura que tem vindo a dar às diferentes
opiniões que se confrontam na cidade, seja no poder local seja no atual momento
de campanha eleitoral para o Parlamento Europeu não honra, em minha opinião, o
que tem sido a prática política do Alto Alentejo onde habitualmente escrevo e
que considero ser, também, “coisa minha”.
Será mero “arrufo”? Será engano meu? Seja o que
seja, importa é que retome o seu papel de instrumento e parceiro na construção
do nosso futuro!
E, como se atribuí ao cego dizer, “a ver
vamos!”.
Diogo Júlio Serra
*Texto publicado no Alto Alentejo de 22 de Maio acompanhado de uma Nota do jornal