quarta-feira, 3 de abril de 2019

Viva o 10 de Junho e a Restauração


…”Viva o 10 de Junho e a Restauração”!

Quarenta e um anos depois as comemorações do 10 de Junho voltam a ter Portalegre como palco.

A cidade e o Alto Alentejo podem assim mostrar-se a Portugal e à Diáspora dando-lhes a conhecer a sua evolução (ou não) ao longo das últimas quatro décadas.

Esta possibilidade poderia/deveria mobilizar os portalegrenses na procura de encontrarmos a melhor maneira de mostrar o que somos e como estamos e, sobretudo, a nossa vontade de trabalhar para que possamos atingir os patamares de desenvolvimento e bem-estar que ambicionamos e merecemos.

E se é sabido que deixámos perder o “titulo” de capital industrial do Alentejo, que a nossa agricultura há muito deixou de ser uma realidade, que por “maldade” do centralismo que nos condena e do “centrão” que nos ostraciza, não poderemos deixar de fora as culpas próprias que a cada um devem ser assacadas.

Culpas que não são de outros e cujo exemplo está hoje e agora bem visível na forma como temos vindo a discutir a decisão de termos em Portalegre, este ano, em partilha com Cabo Verde, as comemorações do dia de Portugal e das Comunidades.

Na verdade o que tem motivado a discussão, em particular na comunicação social e nas redes sociais, não é a preocupação em potenciarmos a favor da cidade e do distrito “o tempo de antena” que nos será oferecido.

A discussão vai-se fazendo, não sobre as possibilidades que essa “montra” nos abre, mas sim, sobre a bondade da decisão presidencial de ter nomeado como Presidente da Comissão do 10 de Junho, um portalegrense. Um jornalista que reside e trabalha na “cidade grande” e a quem a aparição semanal na “caixinha mágica” tem dado alguma visibilidade.

Porque não tem “obra feita” que o justifica, dizem alguns. Porque é de direita, sentenciam outros. Porque…porque…porque…

Não tenho particular simpatia pelo Jornalista nem conheço pessoalmente este portalegrense. Aliás devo confessar-vos fiquei a simpatizar muito mais com a sua esposa (que não conheço) porque ele, João Miguel Tavares, confessou a “indignada” manifestação da senhora quando lhe anunciou a decisão da Município de Portalegre em outorgar-lhe a medalha de ouro da cidade. Mas
não consigo perceber as razões para tanta indignação por parte dos portalegrenses.

Já em relação aos não portalegrenses e em particular a uma certa “inteligência” lisboeta percebo-o facilmente. Custa-lhes entender que “Um Zé Ninguém” alentejano e portalegrense possa ser designado para um lugar que entendem dever ser de acesso restrito e só para os “iluminados” oriundos daquela estreita faixa onde tudo se decide e onde tudo se concentra.

Entendo por isso que é tempo de deixarmos de discutir o acessório e nos empenhemos, todos, em aproveitar ao máximo a possibilidade que se nos abre de mostrarmos as nossas potencialidades, a riqueza do nosso património cultural, arquitectónico, paisagístico e ambiental.  A excelência da nossa gente a nossa capacidade de acolher e a extraordinária localização desta terra que pode ser, só por si, uma vantagem para quem aqui queira investir e instalar-se.

Quanto ao saber se o João Miguel Tavares é mais ou menos de direita, se tem obra maior ou menor, se passou ou não pela universidades ditas de referência assumamos que tal é muito menos importante do que o facto de ter nascido e crescido espraiando o olhar pela nossa rua do comércio, respirando o ar da Serra de S. Mamede e interiorizando as dificuldades e desventuras de quem nascendo e vivendo numa cidade distante apenas 200 km da orla marítima, é rotulado de interior e, por isso, afastado das condições mínimas necessárias a garantirem, a todos, o direito de viverem e trabalharem na terra onde nasceram.


Diogo Júlio Serra

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