Quarenta
e um anos depois as comemorações do 10 de Junho voltam a ter Portalegre como
palco.
A
cidade e o Alto Alentejo podem assim mostrar-se a Portugal e à Diáspora dando-lhes a conhecer a sua evolução (ou não) ao longo das últimas quatro
décadas.
Esta
possibilidade poderia/deveria mobilizar os portalegrenses na procura de
encontrarmos a melhor maneira de mostrar o que somos e como estamos e,
sobretudo, a nossa vontade de trabalhar para que possamos atingir os patamares
de desenvolvimento e bem-estar que ambicionamos e merecemos.
E
se é sabido que deixámos perder o “titulo” de capital industrial do Alentejo,
que a nossa agricultura há muito deixou de ser uma realidade, que por “maldade”
do centralismo que nos condena e do “centrão” que nos ostraciza, não poderemos
deixar de fora as culpas próprias que a cada um devem ser assacadas.
Culpas
que não são de outros e cujo exemplo está hoje e agora bem visível na forma
como temos vindo a discutir a decisão de termos em Portalegre, este ano, em
partilha com Cabo Verde, as comemorações do dia de Portugal e das Comunidades.
Na
verdade o que tem motivado a discussão, em particular na comunicação social e nas
redes sociais, não é a preocupação em potenciarmos a favor da cidade e do
distrito “o tempo de antena” que nos será oferecido.
A
discussão vai-se fazendo, não sobre as possibilidades que essa “montra” nos
abre, mas sim, sobre a bondade da decisão presidencial de ter nomeado como Presidente
da Comissão do 10 de Junho, um portalegrense. Um jornalista que reside e
trabalha na “cidade grande” e a quem a aparição semanal na “caixinha mágica”
tem dado alguma visibilidade.
Porque
não tem “obra feita” que o justifica, dizem alguns. Porque é de direita,
sentenciam outros. Porque…porque…porque…
Não
tenho particular simpatia pelo Jornalista nem conheço pessoalmente este
portalegrense. Aliás devo confessar-vos fiquei a simpatizar muito mais com a
sua esposa (que não conheço) porque ele, João Miguel Tavares, confessou a “indignada”
manifestação da senhora quando lhe anunciou a decisão da Município de
Portalegre em outorgar-lhe a medalha de ouro da cidade. Mas
não
consigo perceber as razões para tanta indignação por parte dos portalegrenses.
Já
em relação aos não portalegrenses e em particular a uma certa “inteligência”
lisboeta percebo-o facilmente. Custa-lhes entender que “Um Zé Ninguém”
alentejano e portalegrense possa ser designado para um lugar que entendem dever
ser de acesso restrito e só para os “iluminados” oriundos daquela estreita
faixa onde tudo se decide e onde tudo se concentra.
Entendo
por isso que é tempo de deixarmos de discutir o acessório e nos empenhemos,
todos, em aproveitar ao máximo a possibilidade que se nos abre de mostrarmos as
nossas potencialidades, a riqueza do nosso património cultural, arquitectónico,
paisagístico e ambiental. A excelência
da nossa gente a nossa capacidade de acolher e a extraordinária localização
desta terra que pode ser, só por si, uma vantagem para quem aqui queira
investir e instalar-se.
Quanto
ao saber se o João Miguel Tavares é mais ou menos de direita, se tem obra maior
ou menor, se passou ou não pela universidades ditas de referência assumamos que
tal é muito menos importante do que o facto de ter nascido e crescido espraiando
o olhar pela nossa rua do comércio, respirando o ar da Serra de S. Mamede e
interiorizando as dificuldades e desventuras de quem nascendo e vivendo numa
cidade distante apenas 200 km da orla marítima, é rotulado de interior e, por
isso, afastado das condições mínimas necessárias a garantirem, a todos, o
direito de viverem e trabalharem na terra onde nasceram.
Diogo Júlio Serra
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