Toda a gente sabe que os… são brutos! *
Raquel Varela in
O Porte do Animal.
Não podia estar mais de acordo.
É isto que se passa sempre que alguns se dispõem a lutar
pelos direitos deles e, quase sempre, pelos de todos nós!
Os opinadores de serviço (ao serviço da mera boçalidade
ou dos grupos que são, de facto, os Donos Disto Tudo) multiplicam-se nos
ataques e na catalogação suficientemente apelativa para levar atrás de si os
muitos e muitas que ainda não descobriram a função atribuída a essa “máquina
brilhante” com que fomos dotados – o cérebro.
A nossa região não fica de fora.
Foi/é assim com a luta dos enfermeiros, dos professores,
dos funcionários públicos, dos trabalhadores das empresas públicas de
transportes e nos últimos dias, dos taxistas.
Também por aqui, em particular nas redes sociais, era
“vê-los/as” a tentarem fabricar falsas razões, a preocuparem-se com a vida
particular e/ou “a fortuna” dos dirigentes associativos, a generalizarem
quaisquer atitudes que à partida pudessem ser condenáveis.
Passada uma semana sobre a ação desenvolvida pelos
taxistas é interessante reler o que foi dito e escrito por quantos e quantas
generalizaram comportamentos sem pensar sequer nos efeitos que traria para a
(sua ) classe a generalização das suas afirmações.
Vejamos! Uma afirmação “fascistoide” de um jornalista
permite-nos insinuar que os jornalistas são fascistas? Claro que não!
A precipitação de um disparo (mesmo que com bala de
borracha) e a “distribuição” de gás pimenta pelos taxistas, permite-nos julgar
todas as forças repressivas ali instaladas como mal preparadas ou amantes da
violência? Claro que não!
Alguma experiência menos boa vivida ou recolhida, sobre
uma qualquer viagem num qualquer táxi ou a boçalidade das alegações de um
taxista bastam para apelidarmos toda a classe de gatunos ou boçais? Claro que
não!
Mas, foi essa a posição de muitos e muitas com “tempo de
antena” e espaço nos meios de comunicação, depois intensamente replicados nas
chamadas redes sociais, numa postura que no mínimo acabava por ocultar o que
verdadeiramente estava em causa: a intervenção das multinacionais no abocanhar
dos negócios e dos lucros à custa da desregulamentação do fator trabalho.
Quantos e quantas dos que escreveram e replicaram as
graçolas sob a inevitabilidade da destruição do emprego regulado e a sua
substituição pelas “novas” formas de espoliação de quem trabalha pararam para
pensar se há modernidade no regresso à exploração vivida por trabalhadores e
povos e a que se convencionou apelidar de escravatura?
E no entanto é isso que está cada vez mais presente
nestes rasgos ditos de pós-modernidade.
Diogo Serra
* publicado no jornal Fonte Nova de 25 de Outubro de 2016