segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Não brinquem Conosco





Diogo Serra*

     O desemprego registado nos Centros de Emprego do distrito tem vindo a desacelerar embora não se consiga perceber se tal desaceleração se fica a dever a uma maior taxa de empregabilidade, ao continuar de habilidades contabilísticas ou à continua diminuição da população ativa.
Certezas apenas no facto de tais diminuições não serem reflexo do aumento do emprego.
Os últimos números conhecidos (Julho de 1916) mostram-nos que o desemprego no distrito atingia 8383 trabalhadores, (3.817 homens e 4.566 mulheres) e que, naquele mês as ofertas de emprego disponibilizadas, não sabemos se respondidas, foram de 166.1
     Se comparados com os registos do mês anterior (8.606 desempregados) ou com o mês homólogo do ano anterior (9.860 desempregados) a situação regista algumas melhorias mas, ainda assim, fortemente penalizadora para o norte alentejano e as suas gentes.
     É que por detrás destes números estão homens e mulheres, mais ou menos jovens e que na sua maioria não tem acesso a quaisquer apoios sociais e por isso, tem de optar entre a exclusão social, a emigração ou a “escravatura moderna” que se expressa ou por trabalho sem direitos, e muitas vezes sem salário.
     A análise concelho a concelho mostra-nos que a taxa de desemprego no distrito atingiu os 16,6% com três concelhos: Monforte, Elvas e Gavião a ultrapassarem os 20%

Fonte: Gabinete de Estudos da USNA/cgtp-in
1 Gabinete de Estudos da USNA/cgtp

     O desemprego é de facto o grande problema do norte alentejano. É o responsável primeiro pela perda de população e pelo seu envelhecimento e, se não for contrariado levará inevitavelmente ao desaparecimento da região.
     Só a cegueira política impede que este problema tenha solução.
     A destruição do nosso tecido produtivo, em particular o desmantelamento da indústria, o abandono de grande parte dos terrenos cultiváveis e a deslocalização dos serviços públicos, não pode ser compensada apenas com atividades que embora lucrativas não garantem às populações a estabilidade e a vida digna que todos anseiam e merecem.
     É fundamental que os órgãos de poder, central e local, assumam estratégias que garantam ao distrito o desenvolvimento da agricultura com o aumento da área regada e com medidas que garantam a boa utilização da área agrícola e garantam à cidade capital de distrito o retomar da sua cultura industrial.
     E não nos digam que não há dinheiro para investir aqui.
     Pensemos apenas quanto custa ao distrito e ao país mantermos os mais de 8 mil desempregados.
     Se estivessem a produzir e a receber o salário médio nacional ( 829€) entravam na economia distrital cerca de 28 milhões de euros/ano e a segurança social arrecadaria mais 6 milhões em vez dos cerca de um milhão pagos a subsidiar o desemprego.

Não é possível? Não brinquem connosco!


*Animador Educativo e Sociocultural
Deputado Municipal

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Barragem do Pisão

É a hora!*


      Num momento em que se prepara o Orçamento de Estado para o próximo ano. Quando as diversas forças políticas se afadigam na apresentação das suas propostas e projetos e, entre os partidos políticos que têm vindo a suportar politicamente o governo atual, cuja ação, diga-se em abono da verdade, tem vindo a pautar-se pela vontade de corrigir algumas das principais “malfeitorias” do governo anterior, se esboçam as primeiras abordagens conjuntas para garantir a sua elaboração e aprovação, a Construção da Barragem do Pisão voltou à ribalta.
   Ainda bem que assim é. Sendo certo que este retomar dessa velha e importante aspiração/reivindicação do Norte Alentejano é, por si só, de grande importância é-o tanto mais porque no passado mês de Julho a Assembleia da Republica votou por unanimidade uma iniciativa parlamentar do PCP que recomenda ao Governo a inclusão do Empreendimento de Aproveitamento Hidráulico de Fins Múltiplos do Crato (Barragem do Pisão) nas prioridades de investimento em regadio.
     Depois de décadas em que se procurou concretizar o sonho de toda uma região, depois de inúmeros estudos que confirmam a importância deste empreendimento para a Região e para o País, depois de inúmeras promessas não cumpridas e mesmo de algumas “traições” é possível que este seja o tempo certo, que tenha chegado a hora.
    Todavia importa não repetir erros do passado. É fundamental assumirmos, todos, que a construção da Barragem do Pisão, mais que uma bandeira de luta político-partidária (a proximidade das eleições autárquicas não ajudará) é, tem que ser, a reivindicação de uma região que tem vindo a pagar um preço demasiado elevado por ter baixo poder reivindicativo e por não ter sabido, (nunca o conseguiu) estabelecer as alianças politicas e sociais capazes de colocarem o interesse da região acima dos interesses imediatos dos protagonistas regionais e locais.
     É esse o risco que voltamos a correr.
   As funções que desempenhei (talvez por demasiado tempo) na coordenação da ação sindical permitiram-me/obrigaram-me a acompanhar de perto o “folhetim Pisão” ao longo de mais de três décadas.
   Conheci e participei em algumas das principais iniciativas visando convencer os de fora da importância desta infraestrutura para todo o distrito e em particular para os concelhos diretamente beneficiários. Vivi com muitos outros atores locais momentos de elevação como o foi, por exemplo, o Debate de 2012, organizado por este jornal e pelo jornal A Mensagem mas, também os momentos de acesa disputa política partidária com o empreendimento de aproveitamento hidráulico de fins múltiplos do Crato a servir de arma de arremesso entre os vários intervenientes.
   Entendo o atual momento político como o momento certo para concretizarmos o sonho: um governo do Partido Socialista com suporte parlamentar dos partidos da Esquerda (PS, PEV, PCP e BE), um ministério das Infraestruturas liderado por um ex-deputado eleito por este círculo eleitoral, unanimidade parlamentar sobre a necessidade do investimento. Não poderemos é continuar a dar “tiros nos pés”.
     A vontade de colher louros para as batalhas autárquicas que aí vêm não pode tolher-nos a razão.
   Algumas afirmações que recentemente vieram a público mesmo que verdadeiras (e manifestamente não o são) só servem para dividir o que precisamos esteja unido e atuante.

     Que o bom senso impere. Bem precisamos!

* Publicado no Jornal Alto Alentejo de 21-09-2016