Diogo Júlio Serra*
Portalegre, cidade e concelho, atravessam um momento de profunda
debilidade. O século XXI acelerou as situações de fragilidade que se vinham
sentido nas últimas décadas do anterior e se caracterizaram pelo desmantelar
das indústrias existentes, pelo definhar do comércio e das pequenas oficinas
que sempre animaram as ruas da cidades e, pior, pelo desânimo que atinge as
nossas gentes e tolhe os nossos autarcas.
O desemprego instalou-se, os mais jovens foram obrigados a partir,
Portalegre transformou-se numa cidade envelhecida, cada dia menos povoada,
menos limpa, mais desleixada.
A cidade deixou de ser a capital industrial do Alentejo e deixou, também,
de ser a cidade branca.
É um caminho que tem que ser invertido!
A cidade e o concelho têm potencialidades bastantes para ultrapassar o mau
momento que vivemos.
Não é a primeira vez que Portalegre se vê confrontada com dificuldades
motivadas por falências e encerramentos de empresas e dificuldades financeiras
do município. Sempre soube ultrapassá-las.
O colapso da industria de lanifícios nos finais do século XIX originou
desemprego em massa e foi pioneira de situações de salários em atraso e
falências que agora voltamos a viver.
A situação foi superada com o enorme contributo dos Robinson e da sua
corticeira, entretanto desaparecida mas que pode, de novo, ser o motor para
retomarmos os caminhos do progresso e bem estar.
Assumindo como pouco provável que consigamos em pouco tempo a
reindustrialização que reivindicamos é fundamental que olhemos, todos, para as
inúmeras potencialidades que ainda detemos mas que teimosamente não transformamos
em produtos para o desenvolvimento sonhado.
Desde logo o riquíssimo património que nos foi deixado pela Portalegre
industrial que fomos. Uma cultura industrial, um valioso espólio de arqueologia
industrial de que se destaca o espaço Robinson e a Fundação que o gere mas
também os “destroços” da Lanifícios e Invicar.
Outras potencialidades de que a cidade e o concelho dispõem são o seu rico
património arquitectónico e a existência na cidade das melhores tapeceiras do
mundo e da Manufactura de Tapeçarias de Portalegre.
O espaço Robinson , um espaço com 7 há no coração da cidade e onde se
mantém de pé toda a estrutura da secular fábrica poderia/deveria ver ali instalado um centro
de investigação do montado e da cortiça em sã convivência com a musealização da
Robinson e tendo por vizinhas as muitas associações que teimam em continuar
portalegrenses.
A Manufatura Tapeçarias de Portalegre e a sua Tapeçaria ímpar
poderão/deverão alavancar todo a politica municipal de turismo e assumirem-se
como foco de atracção para um segmento de turismo culto, com poder-de-compra,
interessado e predisposto a “fugir” à oferta
de sol e mar ou ao frenesim do litoral e dos grandes centros.
As inúmeras casas senhoriais, os mosteiros e conventos, as suas capelas e
igrejas fazem desta cidade um museu a céu aberto, complementado por uma rede de
museus de que se destacam o Museu Municipal, o Museu de Tapeçarias, a Casa
Museu José Régio e o espaço museológico da Igreja de S. Francisco.
Com tudo isto o que nos falta?
Falta-nos a vontade. Nenhuma das muitas potencialidades que detemos nos
poderá valer se a vontade dos portalegrenses não conseguir impor, a cada um de
nós, aos cidadãos organizados em associações e partidos e aos vários patamares
do Poder Local a capacidade para descobriram pontos de união para nos tirar do
pântano onde nos deixaram.
Importa que o Município de Portalegre e as forças políticas que o compõem
canalizem a discussão para encontrar formas de a Fundação Robinson retomar os
seus objectivos fundadores e dispor dos meios materiais necessários em vez de
continuarem a fazer dela arma de arremesso ao sabor dos seus interesses
politico-eleitorais.
Importa que a Administração da Manufactura e os vários parceiros que
preparam a sua candidatura a Património Cultural da Humanidade não esqueçam que
a Tapeçaria de Portalegre é o que é porque contou com a invenção do famoso
nó, com a visão empresarial da família
Fino, com os cartões de pintores famosos mas também com o empenhamento e saber
daquelas que Jean Lurçart apelidou de melhores tecedeiras do mundo e essas,
estão no desemprego, a exercerem mil e uma actividades que nada têm que ver com
os seus saberes e a receberem “aos bochechos” os salários que não lhes foram
pagos em tempo útil.
É difícil? É! Mas tem que ser feito.
*publicado
no Jornal Alto Alentejo de 22/02/16