Senhora
Presidente do Conselho de Curadores da Fundação Robinson e Presidente do
Município
Exmos
Senhores membros do Conselho de Administração
Caras
e Caros Convidados
Permitam
que inicie esta apresentação dando-vos conta da enorme satisfação que o convite
da Fundação me suscitou.
Apresentar-vos este importantíssimo trabalho da autoria do Professor
António Ventura, neste dia e neste espaço que tanto dizem a todos os portalegrenses
é para mim motivo de grande orgulho, tanto mais que como alguns de vós bem
sabeis integrei durante algum tempo as equipas que procuraram e procuram neste
Espaço Robinson preservar a nossa memória colectiva e contribuir para que hoje
e no futuro este seja um local de fruição e de cultura.
Este
local, que foi e é motor de desenvolvimento da cidade e do concelho, é sentido
por cada portalegrense como uma parte de si próprio.
Ao
longo de mais de um século “a Robinson” foi local de trabalho que marcou o ritmo
da cidade, escola de participação cívica por onde passaram elementos da quase totalidade
das famílias portalegrenses e ninho onde nasceram dos mais belos projectos que
enriqueceram a cidade e as suas gentes.
O
fim do século XX e as ideias de alguns de que o tempo da industria
transformadora havia terminado, aliadas a actos de gestão e politicas
desastrosas ditaram o encerramento da “velhinha” Robinson.
Para
os muitos trabalhadores arrastados para o desemprego e para as respectivas
famílias, já não havia em Portalegre a “almofada” que amorteceu outras crises
de emprego no decorrer dos séculos anteriores. Para a cidade ficava o desafio
de encontrar formas de preservar a memória e o espaço como património colectivo
dos portalegrenses.
A nossa presença aqui, a assinalar mais um dia Robinson, mostra que
independentemente das diferentes leituras que
podem
ser feitas, foi acertada a opção de criar a Fundação com o objecto de perpetuar
a memória e a tradição corticeira do local.
Mas
passemos agora à publicação.
Esta
obra – conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson, da autoria do
Professor António Ventura e editada pela Fundação Robinson é tão só a continuação da intervenção
cultural e cientifica que é marca da Fundação.
Ela
é um extraordinário contributo para o conhecimento do quotidiano da nossa
cidade nos séculos XIX e XX.
Esta
publicação que é, como todas as que a antecederam, extremamente agradável à
vista e ao tacto – ( alguns, não é o meu caso, tem-nas apelidadas de demasiado
luxuosas) é igualmente pelo seu conteúdo um inestimável serviço que mais uma
vez é colocado à disposição da cidade.
O Professor António Ventura dá-nos conta da conflitualidade entre
capital e trabalho existente numa unidade industrial que marcou a nossa região
mas leva-nos muito para além dessa realidade. Mostra-nos o papel que a
Industria Transformadora e em particular a Industria Corticeira
tiveram no crescimento da cidade e do concelho e as razões que lhe granjearam o
título que ainda hoje orgulhosamente gostamos de lembrar – de cidade
industrial.
Mostra-nos
situações de crise e de desemprego que afligiram os portalegrenses nos séculos
passados e como então, estávamos em melhor situação, para fazer frente a tais
adversidades.
Num
momento em que a cidade e o concelho se debatem com taxas de desemprego que há
muito ultrapassaram os níveis controláveis, quando todos nos indignamos com o
definhar do nosso comércio e o empobrecimento generalizado das gentes e da
cidade, registamos o sublinhado que o Professor António Ventura nos deixa
quando, a propósito da crise dos lanifícios dos finais do século XIX, na página
9, se refere à Industria em Portalegre.
“…A suspensão de pagamentos da Fábrica Larcher & Sobrinhos, em 1868,
arrastou na sua queda a Companhia da Fábrica Nacional de Portalegre, lançando
no desemprego cinco centenas de operários. O golpe de misericórdia foi
desferido em 1896 com a falência da Companhia da Fábrica de Lanifícios de
Portalegre. … Desse universo portalegrense em crise, a única excepção era
a fábrica de cortiça do inglês George Robinson, fundada em meados do séc. XIX,
e que assumiu, no último quartel de oitocentos, o papel de principal entidade
empregadora”.
Se
omitirmos as datas (1868 e 1896) e adaptarmos os nomes parecer-nos-á que estamos
a falar do Portalegre de agora, com uma excepção importante. Nos finais do
Século XX quando os lanifícios voltaram a atirar centenas de trabalhadores para
o desemprego, quando a multinacional Jonson Controls abandonou a cidade e
lançou no desemprego cerca de trezentos operários, quando as herdeiras da nossa
Finicisa de dividiram e diminuíram drasticamente o numero de trabalhadores… a
fábrica de cortiça do Inglês George Robinson já não podia absorver nenhuma da
mão de obra disponível. Estava também ela do lado das que encerravam.
Esta
publicação é, como atrás referi, muito mais que a história dos conflitos
sociais daquela época.
Mostra-nos
o crescimento da cidade e o seu tecido produtivo. A sua importância económica e
a sua capacidade para atrair serviços.
Atractividade
e serviços que hoje não tem.
Este
importante trabalho do Professor António Ventura dá-nos conta do nascer do
associativismo e do seu desenvolvimento.
Primeiro
com o nascimento de associações mutualistas depois com o aparecimento de outras
associações – como a sociedade União Operária cujo objectos incluíam “ o
recreio, a confraternização, a instrução e a ilustração e por fim com o
despertar da classe operária, o aparecimento das associações de classe do
sindicalismo.
Por
último, a interessante amostra feita através da imprensa da época, também ela
em número e em capacidade de intervenção muito superior á actual, o Professor
António Ventura deixa-nos “viver” os mais significativos conflitos que opuseram
patrões e empregados na cidade e no concelho e mostra-nos os diferentes olhares
dos atores políticos de então sobre esses mesmos conflitos.
Mostra
a capacidade de organização e a solidariedade dos trabalhadores e trabalhadoras
da cidade e do concelho e também, o alto preço que nalguns casos foi necessário
pagar por essa solidariedade como é exemplo a prisão durante vários meses, dos 8
operários que participavam em Portalegre nas manifestações de solidariedade com
os participantes da Greve Geral de Évora, em 1912.
Presente
nesta obra a constatação de que a vida da cidade e o do concelho estiveram ao
longo de muitas décadas intimamente ligadas à Robinson e à Industria
Corticeira.
A
Robinson foi ninho onde se iniciaram sonhos e consolidaram projectos. A
Robinson, os operários e operárias corticeiras e os seus quadros técnicos foram
o início de obras de grande envergadura que ainda hoje perduram: a Sociedade
União Operária, os Bombeiros; a Cooperativa Operária Portalegrense; o
sindicalismo.
Uma
última nota para relembrar as razões da Greve na Robinson em 1911 e que hoje há
noite será recordada
Razões
que estão hoje na ordem do dia mas que em 1911 até para mentes mais abertas
como as da família Robinson, não eram passíveis de fácil aceitação: a
reivindicação das operárias para que as chefias da secção onde só trabalhavam
mulheres fosse exercida por …uma mulher!
* as fotos são propriedade da Fundação Robinson