terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Tempos de Solidariedade????

Natal?
Bom Ano Novo?

Num tempo em que todos e todas sentimos a obrigação de apresentar votos de felicidade e em que as famílias (as que ainda podem) se afadigam para se encontrarem e exercitarem rituais que se eternizaram é para muitos um tempo de solidão!

Centenas de pessoas obrigaram-se a enviar-me por correio, por telefone, por mail ou através da redes sociais, os Votos de Boas Festas e de um Próspero Ano Novo. Fiquei feliz!

Mas de muitos que me estão próximos, dos que sabem que há muito o salário não chega com regularidade ou não chega mesmo. Daqueles que têm responsabilidades, porque as instituições que dirigem não cumprem com a suas obrigações e que tinham obrigação de no mínimo estarem preocupados. Nada...!

Possivelmente por esquecimento não quiseram saber se haveria boas ou más festas, se haveriam prendas com ou sem lacinhos, se a ementa seria perú, faisão, rabanadas ou...coisa nenhuma.

Se foi esquecimento, descansem... O Natal foi passado em casa da filha e a noite de passagem de ano, porque o dia está a ser passado no local de trabalho, selo-á em casa da irmã.

Sim, uma e outra são camaradas e por isso, só por isso, poderei continuar a "acreditar" que camarada é mais que irmão.

Para todos e todas que lutam e sofrem o compromisso que 2014 me irá encontrar, como sempre, no lado de cá da luta!

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Á Luz de archotes reafirmámos a nossa vontade em continuar a luta!

 
Há sempre alguem que resiste, há sempre alguém que diz NÃO!
Hoje, as ruas de Portalegre testemunharam a nossa vontade em dar a volta a isto!
 
À luz de archotes, a Marcha da Indignação e Protesto, ligou a ex-fabrica de lanifícios, à Escola Superior de Educação.
 
A Marcha ao ligar uma importante unidade industrial hoje sede do Banco Alimentar contra a Fome à Escola Superior e aí, na Praça da República queimar o Orçamento de Estado, mostrou os resultados das politicas de destruição do tecido produtivo, reafirmou a vontade de quem trabalha e vive no Norte Alentejano, em não permitir que continuem as políticas de roubo e empobrecimento e afirmou o seu desacordo com o Ministro Crato que veio agora destratar o Ensino Superior Politécnico.
 
Mostrou, sobretudo, que também no Norte Alentejano a luta continua!

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

VAMOS DAR A VOLTA A ISTO!

 
 
Sob o lema "VAMOS DAR A VOLTA A ISTO!" o Movimento Sindical do Norte Alentejano desenvolverá ao longo de todo o mês de Dezembro um conjunto de acções de indignação e protesto, unidade e proposta.
 
Em cada um dos 15 concelhos do distrito o Movimento Sindical, os trabalhadores seus representados e as populações irão lutar em defesa dos serviços publicos e do emprego, contra o encerramento de repartições de finanças e estações de correio, de tribunais e serviços de saúde, em defesa da manutenção, no distrito, do Centro de Instrução de Praças da GNR e do Ensino Superior. Pelo direito de viver e trabalhar no distrito de Portalegre.
 
A União dos Sindicatos do Norte Alentejano, a estrutura da CGTP-IN que coordena e dirige a acção sindical no Norte Alentejano, convidou todos e todas, organizações e pessoas, a integrarem as diferentes iniciativas e lutas.
 



sábado, 12 de outubro de 2013

As pontes (portas) que Abril abriu, ninguém mais agora encerra!

O governo das forças de ocupação teme que possa suceder "alguma coisa" aos manifestantes que irão cumprir, no próximo dia 19 de Outubro a Marcha por Abril.
 
Preocupado com a segurança dos manifestantes e munido dos pareceres que encomendou para justificar o injustificável, o governo pede que não se atravesse a Ponte.
 
Está preocupado e tem razões para estar!
 
Razões que se prendem não com as invenções apresentadas: desconhecimento do número de participantes, possibilidade de os marchantes baixarem para o patamar onde circulam os comboios, não ser possível qualquer intervenção em caso de emergência, os marchantes não terem seguro, etc..., etc..., mas com a razão real de que a Marcha será um novo e importante empurrão para pôr o governo na rua e os seus mandantes tirarem a mão dos nossos bolsos.
 
Não esqueceram que foi  na Ponte 25 de Abril que se iniciou a contagem final do "reinado cavaquista" e medrosos, afadigam-se a tentar manter a sua Ponte Salazar esquecendo que esta é há muito a Ponte 25 de Abril.
 
Vejamos os argumentos (alguns):
 
1º Não é possível saber atempadamente quantos serão os marchantes no dia 19, ao contrário de anteriores feijoadas ou maratonas. Não? então não é o governo quem sistematicamente manda os seus "avaliadores" dizerem que em cada manifestação eram muito poucos?
 
2º A altura de 70 metros entre o Tabuleiro e a àgua é fator de grande risco.
Porquê, o tabuleiro da ponte vai atirar-nos borda-fora?
 
3º Os manifestantes, ao contrário dos maratonistas, não tem seguro.
Será que se as seguradoras "amigas" engordarem com mais uns euros, o "perigo desaparece".
 
4º As dificuldades acrescidas no caso de multidões em fúria (ou em pânico).
Tem sido essa a matriz das iniciativas da CGTP-IN? ou o governo está a equacionar enviar provocadores (como já sucedeu) para estimular a fúria ou o pânico?
 
Posto isto resta-nos a constatação de que o governo das forças ocupantes teme pela sua própria segurança.
 
Tem razão! Como outros que o antecederam com os mesmos objectivos vai ser despachado para o caixote do lixo da história.
 
Como transformámos o Terreiro do Paço em Terreiro do Povo, dia 19 vamos garantir que a Ponte que já foi Salazar se mantenha para nós e para os nossos filhos e neto a PONTE 25 DE ABRIL!
 
Portalegre, 12-10-2013
 
Diogo Serra

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Apresentação da Publicação " Conflitos Sociais em Portalegre, no tempo dos Robinson.



Senhora Presidente do Conselho de Curadores da Fundação Robinson e Presidente do Município

Exmos Senhores membros do Conselho de Administração

Caras e Caros Convidados

Permitam que inicie esta apresentação dando-vos conta da enorme satisfação que o convite da Fundação me suscitou.

Apresentar-vos este importantíssimo trabalho da autoria do Professor António Ventura, neste dia e neste espaço que tanto dizem a todos os portalegrenses é para mim motivo de grande orgulho, tanto mais que como alguns de vós bem sabeis integrei durante algum tempo as equipas que procuraram e procuram neste Espaço Robinson preservar a nossa memória colectiva e contribuir para que hoje e no futuro este seja um local de fruição e de cultura.
Este local, que foi e é motor de desenvolvimento da cidade e do concelho, é sentido por cada portalegrense como uma parte de si próprio.
Ao longo de mais de um século “a Robinson” foi local de trabalho que marcou o ritmo da cidade, escola de participação cívica por onde passaram elementos da quase totalidade das famílias portalegrenses e ninho onde nasceram dos mais belos projectos que enriqueceram a cidade e as suas gentes.
O fim do século XX e as ideias de alguns de que o tempo da industria transformadora havia terminado, aliadas a actos de gestão e politicas desastrosas ditaram o encerramento da “velhinha” Robinson.

Para os muitos trabalhadores arrastados para o desemprego e para as respectivas famílias, já não havia em Portalegre a “almofada” que amorteceu outras crises de emprego no decorrer dos séculos anteriores. Para a cidade ficava o desafio de encontrar formas de preservar a memória e o espaço como património colectivo dos portalegrenses.

A nossa presença aqui, a assinalar mais um dia Robinson, mostra que independentemente das diferentes leituras que podem ser feitas, foi acertada a opção de criar a Fundação com o objecto de perpetuar a memória e a tradição corticeira do local.

Mas passemos agora à publicação.

Esta obra – conflitos sociais em Portalegre no tempo dos Robinson, da autoria do Professor António Ventura e editada pela Fundação Robinson  é tão só a continuação da intervenção cultural e cientifica que é marca da Fundação.

Ela é um extraordinário contributo para o conhecimento do quotidiano da nossa cidade nos séculos XIX e XX.

Esta publicação que é, como todas as que a antecederam, extremamente agradável à vista e ao tacto – ( alguns, não é o meu caso, tem-nas apelidadas de demasiado luxuosas) é igualmente pelo seu conteúdo um inestimável serviço que mais uma vez é colocado à disposição da cidade.

O Professor António Ventura dá-nos conta da conflitualidade entre capital e trabalho existente numa unidade industrial que marcou a nossa região mas leva-nos muito para além dessa realidade. Mostra-nos o papel que a Industria Transformadora e em particular a Industria Corticeira tiveram no crescimento da cidade e do concelho e as razões que lhe granjearam o título que ainda hoje orgulhosamente gostamos de lembrar – de cidade industrial.

Mostra-nos situações de crise e de desemprego que afligiram os portalegrenses nos séculos passados e como então, estávamos em melhor situação, para fazer frente a tais adversidades.

Num momento em que a cidade e o concelho se debatem com taxas de desemprego que há muito ultrapassaram os níveis controláveis, quando todos nos indignamos com o definhar do nosso comércio e o empobrecimento generalizado das gentes e da cidade, registamos o sublinhado que o Professor António Ventura nos deixa quando, a propósito da crise dos lanifícios dos finais do século XIX, na página 9, se refere à Industria em Portalegre.
“…A suspensão de pagamentos da Fábrica Larcher & Sobrinhos, em 1868, arrastou na sua queda a Companhia da Fábrica Nacional de Portalegre, lançando no desemprego cinco centenas de operários. O golpe de misericórdia foi desferido em 1896 com a falência da Companhia da Fábrica de Lanifícios de Portalegre. … Desse universo portalegrense em crise, a única excepção era a fábrica de cortiça do inglês George Robinson, fundada em meados do séc. XIX, e que assumiu, no último quartel de oitocentos, o papel de principal entidade empregadora”.

Se omitirmos as datas (1868 e 1896) e adaptarmos os nomes parecer-nos-á que estamos a falar do Portalegre de agora, com uma excepção importante. Nos finais do Século XX quando os lanifícios voltaram a atirar centenas de trabalhadores para o desemprego, quando a multinacional Jonson Controls abandonou a cidade e lançou no desemprego cerca de trezentos operários, quando as herdeiras da nossa Finicisa de dividiram e diminuíram drasticamente o numero de trabalhadores… a fábrica de cortiça do Inglês George Robinson já não podia absorver nenhuma da mão de obra disponível. Estava também ela do lado das que encerravam.

Esta publicação é, como atrás referi, muito mais que a história dos conflitos sociais daquela época.

Mostra-nos o crescimento da cidade e o seu tecido produtivo. A sua importância económica e a sua capacidade para atrair serviços.

Atractividade e serviços que hoje não tem.

Este importante trabalho do Professor António Ventura dá-nos conta do nascer do associativismo e do seu desenvolvimento.

Primeiro com o nascimento de associações mutualistas depois com o aparecimento de outras associações – como a sociedade União Operária cujo objectos incluíam “ o recreio, a confraternização, a instrução e a ilustração e por fim com o despertar da classe operária, o aparecimento das associações de classe do sindicalismo.

Por último, a interessante amostra feita através da imprensa da época, também ela em número e em capacidade de intervenção muito superior á actual, o Professor António Ventura deixa-nos “viver” os mais significativos conflitos que opuseram patrões e empregados na cidade e no concelho e mostra-nos os diferentes olhares dos atores políticos de então sobre esses mesmos conflitos.

Mostra a capacidade de organização e a solidariedade dos trabalhadores e trabalhadoras da cidade e do concelho e também, o alto preço que nalguns casos foi necessário pagar por essa solidariedade como é exemplo a prisão durante vários meses, dos 8 operários que participavam em Portalegre nas manifestações de solidariedade com os participantes da Greve Geral de Évora, em 1912.

Presente nesta obra a constatação de que a vida da cidade e o do concelho estiveram ao longo de muitas décadas intimamente ligadas à Robinson e à Industria Corticeira.

A Robinson foi ninho onde se iniciaram sonhos e consolidaram projectos. A Robinson, os operários e operárias corticeiras e os seus quadros técnicos foram o início de obras de grande envergadura que ainda hoje perduram: a Sociedade União Operária, os Bombeiros; a Cooperativa Operária Portalegrense; o sindicalismo.

Uma última nota para relembrar as razões da Greve na Robinson em 1911 e que hoje há noite será recordada

Razões que estão hoje na ordem do dia mas que em 1911 até para mentes mais abertas como as da família Robinson, não eram passíveis de fácil aceitação: a reivindicação das operárias para que as chefias da secção onde só trabalhavam mulheres fosse exercida por …uma mulher!


* as fotos são propriedade da Fundação Robinson

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013