quarta-feira, 18 de agosto de 2010
SE DEIXARMOS, ENCERRAM A REGIÃO!
No distrito de Portalegre as insolvências verificadas no 1º trimestre de 2010 cresceram 200%, em relação ao mesmo período do ano anterior.
Esta notícia divulgada por um jornal diário foi manchete em todos os órgãos de comunicação social do Norte Alentejano. E se é verdade que o número absoluto de empresas declaradas insolvente no período em análise foi de apenas de 15, não é menos verdade que a “morte” de 15 empresas numa região onde estas são escassas, será sempre, mais que um facto noticioso, uma situação de grande dramatismo para o distrito e as suas gentes.
Para o Presidente do Núcleo Empresarial de Portalegre. “ São a constatação de uma realidade trágica”. Mas para os trabalhadores e o seu Movimento Sindical o problema não pode ser visto com o simplismo de um número, maior ou menor, e muito menos como uma constatação da “má sina” de sermos Alentejanos.
O problema ultrapassa a mera constatação de ter sido o distrito de Portalegre aquele onde mais subiram as insolvências no primeiro trimestre do ano. O título de campeão das insolvências “ ganho” por um distrito onde (se excluirmos o concelho de Campo Maior) não funcionava já nenhuma empresa com mais de 250 trabalhadores seria já suficientemente dramático. Todavia, ele espelha a realidade imposta a todo o interior e à grande parte do Alentejo.
Segundo o Observatório para o Desenvolvimento Económico e Social da Universidade da Beira Interior “os maiores acréscimos relativos de insolvências localizam-se sobretudo em Portalegre, Beja, Évora e também Guarda (+12.5% face a igual período do ano passado) …” e, constata, que e o número de empresas insolventes tem vindo a crescer nos dois últimos anos.
A evolução do número de insolvências nos três distritos alentejano nos períodos homólogos de 2009 e 2010 mostram o Alentejo como a região onde o número de empresas insolventes tem vindo a crescer incessantemente.
Distrito 2009 2010 Variação
Beja 3 5 + 60%
Évora 14 20 + 70%
Portalegre 5 15 + 300%
O responsável do Observatório aponta como razões para esta situação:
“- A globalização com a abertura das fronteiras aos produtos chineses, indianos, e de outros países o que levou a que sectores tradicionais importantes como o têxtil e a confecção, entre outros, não resistissem à abertura das fronteiras e à concorrência dos produtos oriundos dos países emergentes com custos de produção muito mais baixos e com trabalhadores sem quaisquer direitos sociais;
- A concorrência das grandes superfícies que tem vindo a provocar o encerramento de inúmeras empresas do comércio por grosso e sobretudo a retalho (caso do comércio tradicional);
- A PAC – Política Agrícola Comum – da UE que favorece os grandes produtores da Europa central com produtividades muito mais elevadas conseguidas com propriedades de grandes dimensões e bons terrenos, mais agressivos, que tem conduzido ao encerramento de muitas PMEs e empresas familiares dos sectores agrícola e pecuário que predominam na metade norte do país;”
A situação imposta a todo o interior e que os dados em apreço são apenas parte dos seus resultados, é fruto não apenas da mera incompetência dos governantes nacionais e dos seus representantes a nível local mas sobretudo, da cínica aplicação de políticas em que o cunho de classe se sobrepõe a quaisquer interesses nacionais.
No Alentejo essa realidade é facilmente constatável.
À destruição do aparelho produtivo regional com o desmantelamento ou deslocalização de importantes unidades industriais juntou-se o esvaziar da região de serviços públicos essenciais à vida na região e em particular nos centros populacionais mais pequenos e afastados das suas principais cidades.
Hoje constamos que não apenas desapareceram (ou estão em grandes dificuldades) as indústrias corticeiras e de transformação dos granitos em Portalegre, as industrias dos mármores e do sector automóvel no distrito de Évora, o sector mineiro no Baixo Alentejo, ou as grandes unidades têxteis e de vestuário como a Finos de Portalegre e a Lee em Évora. Constatamos que a maior parte das nossas vilas e aldeias foi amputada de serviços de saúde, de correios, de transportes e, numa acção que continua, das escolas para as suas crianças.
Constatamos que o ódio de classe aos trabalhadores agrícolas que construíram nos campos do Alentejo uma nova agricultura não destruiu apenas a “reforma Agrária” e as suas unidades colectivas de produção, destruiu toda a agricultura e por arrastamento as unidades agro-alimentares e hoje, quando somos cada vez mais dependentes do exterior para garantirmos a alimentação dos portugueses, na nossa região, um punhado de famílias recebe muitos milhões de euros para manter as terras improdutivas.
Ora perante esta realidade não é aceitável que desvalorizemos a dimensão do desastre ou o aceitemos como fatalismo intransponível. Não! Por detrás de cada um dos milhares de cartazes que enchem as nossas cidades com a palavra “Vende-se” ou “Trespassa-se”, em cada rosto preocupado ou descrente dos mais de 30 mil desempregados na região, há responsáveis e beneficiários por tais situações e está a marca do capitalismo cujos defensores ocupam há mais de 3 décadas, ininterruptamente, os corredores do poder.
O movimento sindical da região tem vindo a bater-se por políticas capazes de inverter a marcha que nos empurra para o empobrecimento, para o despovoamento e para o envelhecimento populacional, tem-no feito, muitas vezes quase sozinho e com resultados que não têm sido suficientes para imporem a mudança necessária. Mas não pode desistir.
Nestes tempos em que por toda a Europa se anunciam como inovadoras as mais bafientas ideias do neoliberalismo e os seus fiéis se afadigam em destruir o modelo social criado com o trabalho o suor e o sangue de gerações de trabalhadores, importa que também aqui os trabalhadores mantenham audíveis os protestos e as propostas que permitam um Novo Rumo.
A luta desenvolvida já este ano e cujo ponto alto foi conseguido com o mar de gente que inundou Lisboa não pode, nem vai parar: no momento em que este texto é escrito, por toda a região cresce a azáfama que há-de encher as praças e avenidas de Beja, Évora e Portalegre com o afirmar do Dia Nacional de Protesto e Luta e cresce no coração de cada alentejano a determinação que também o Alentejo estará presente na luta já decidida pela Confederação Europeia de Sindicatos para 29 de Setembro.
Os Alentejanos conhecem bem os caminhos da resistência mas sabem que nos dias de hoje a resistência tem que ser feita em movimento. Hoje, no Alentejo são precisas posturas ofensivas.
A situação para onde nos empurraram é tal que basta defender os direitos conquistados é, cada vez mais necessário poder exercê-los e garantir novos direitos para aqueles, muitos, que excluídos pelas lógicas do capitalismo são empurrados para a precariedade, para o desemprego ou obrigados a deixar a região.
Este é o combate que é necessário travar e vencer: na Região, no País e no Mundo.
Como sempre sucedeu, o Alentejo não fugirá a esse combate.
Diogo Serra
Publicado na Revista Alentejo
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