quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Vir' ó disco e toca o mesmo!

 

Vir’ ó disco e toca o mesmo!


O período de férias aproxima-se do fim. Os partidos políticos que gostam de afirmar “a reentré” já retomaram as tradicionais festarolas onde procuram aproveitar a confluência de veraneantes para montarem as suas jornadas mediáticas no intuito de nos fazerem acreditar que “desta vez vai ser diferente”.

Algumas dessas festarolas já tiveram lugar e foram aproveitadas pelos chefes políticos para apresentarem as “propostas de mudança”... Entre estas e merecendo os favores dos grandes meios de comunicação aconteceu a festa que o PPD promove anualmente no Pontal. Desta vez, porque no poder, com discurso do Primeiro-ministro com as também habituais promessas que quem está no poder gosta de lançar e as oposições gostam de denunciar como mentiras ou obscuras intenções eleitoralistas.

Cumpriu-se a tradição! Não faltaram as inflamadas tiradas do Primeiro-ministro, o atirar-nos alguns “rebuçados” e a esconder-nos quer as responsabilidade que tem (mais o seu partido) na dificílima situação com que os trabalhadores e as populações se confrontam quer, a sinistra intenção de continuar e acelerar as politicas responsáveis por tal situação.

Também não faltaram os papagaios pagos para nos fazerem acreditar nas maravilhas da governação e propagandearem como extraordinário o discurso do “chefe” e a bondade das medidas anunciadas.

E eu, que fui premiado com uma dessas medidas (em Outubro vou ter uma benesse extraordinária de… 100 euros) não consigo compreender a bondade do discurso ou a sua novidade.

Na verdade o discurso do primeiro-ministro foi mais do mesmo. Como outros discursos de outros primeiros-ministros passou ao lado da situação dos trabalhadores e do país e não dá resposta aos graves problemas que afectam quem cá vive, quem quer cá viver e trabalhar, não responde aos anseios dos jovens e das necessidades dos idosos.

E não foi nem distracção nem desconhecimento. Ele sabe, nós sabemos que ele sabe, que o que valoriza o trabalho e os trabalhadores são salários dignos e respeito pelas carreiras e sabe muito bem que é urgente e necessário um aumento dos salários que possa dar resposta aos aumentos brutais do custo de vida.

Sabe que o que fará com que os jovens queiram viver e trabalhar em Portugal são salários dignos, vínculos de trabalho estáveis, habitação acessível, que lhes permitam perspectivar o seu futuro. Não é a redução de impostos que há boleia abre caminho para a acumulação de mais lucros pelos mesmos do costume, aprofundando desigualdades, que fará com que os jovens optem por ficar no País.

Sabe, como também o sabiam os anteriores governos, que o que garantirá condições e qualidade de vida aos reformados e pensionistas é o aumento significativo das pensões e reformas para responder às necessidades e não medidas pontuais como o anunciado “suplemento extraordinário” de 200, 150 ou 100 euros em Outubro. Esta migalha não pode servir de pretexto para que não se proceda a um aumento das reformas necessário e possível.

Ele, como os primeiros-ministros que o antecederam, sabe que a grave situação que vivemos só será travada e invertida se forem alteradas as políticas que têm sido seguidas nas últimas décadas e que impõem que 62% dos trabalhadores por conta de outrem têm um salário bruto até 1000€ e, 745 mil trabalhadores recebiam em 2023, o Salário Mínimo Nacional, cujo valor líquido é, atualmente, de 729,80€.

E não nos venham dizer que não há dinheiro. Todos sabemos dos avultados milhões desviados para alimentar a guerra.

Também o desmantelamento do Serviço Nacional de Saúde, está em marcha, com o argumento que não há dinheiro para contratar e pagar justamente aos profissionais de saúde, enquanto se transferem milhões para as empresas do negócio da doença.

Não é falta de dinheiro. É a política de classe da direita no poder que impede uma outra distribuição da riqueza. É a política de classe da direita no poder, agora e antes, que nos leva a que um em cada dez trabalhadores encontra-se numa situação de pobreza enquanto os lucros dos grandes grupos económicos no nosso País atingiram no primeiro semestre 32,5 mil milhões de euros por dia.

Até quando o permitiremos?

Diogo Júlio Serra