A ideia nunca acaba!*
Portalegre cidade e região estão
a comemorar o 23º aniversário do Museu da Tapeçaria Guy Fino, museu que
preserva e expõe os saberes e a arte da Tapeçaria de Portalegre.
O Museu mantém viva a ousadia de três
homens, Guy Fino, Manuel Celestino e Manuel do Carmo Peixeiro, que nos anos 50
do século passado impuseram Portalegre num mundo até então exclusivo de França
e da Flandres e da competência e arte das tapeceiras de Portalegre consideradas
por Jean Lurçat como as melhores tapeceiras do mundo.
Uma semana antes os
portalegrenses e quantos nos visitaram puderam viver um “Mercadinho das Artes
que transformou a Av. da Liberdade num oásis de cor, arte e salutar convivência
inter-geracional.
Uma e outra iniciativas a provarem
que é possível encontrar caminhos novos capazes de suprirem ou, no mínimo
amenizarem, a apatia que nos tem tolhido e, quantas vezes, nos impede de reagir
às malfeitorias de quem lá longe ou entre nós teima em condenar-nos a uma
cidadania de escalão inferior.
Sim, eu sei que os golpes tem
sido profundos.
Sei, todos sabemos, a situação
comatosa vivida pela Manufatura que produziu e distribuiu por “todo o mundo” as
tapeçarias de Portalegre. Que a FINO´s , sua prima-irmã e onde eram tingidas as
lãs com as mil e uma cores necessária às tapeceiras já há muito encerrou. Que a
velhinha Robinson onde chegaram a laborar cerca de dois mil operários, está
encerrada e, até o seu riquíssimo património industrial está não apenas
inaproveitado como em risco de ruir.
Sim. Sabemos que o Núcleo
Museológico da Igreja de S. Francisco, onde foram investidos muitos milhares de
euros, está não só encerrado como tem em risco todo o acervo nele depositado.
Sei, sabemos todos, que a
Fundação Robinson foi assassinada como já o havia sido a empresa que lhe deu o
nome e não se consegue sequer potenciar o valoroso património (sete hectares no
centro da cidade) e uma fábrica típica do seculo XIX ainda capaz de demonstrar
as técnicas de fabrico da rolha e aglomerados de cortiça.
Sabemos que está fechado e
abandonado o antigo Sanatório enquanto se vão desfazendo os projetos anunciados
de aproveitamento turístico. E sim, acompanhamos as preocupações dos que
antecipam o mesmo fim para solares e conventos, quando deixarem de ser quartéis
militares e militarizados e passarem a ter que ser mantidos pelos seus
proprietários.
O café alentejano, o cine teatro
Crisfal, o bairro da Vila Nova aí estão para nos recordar.
Sabemos também que o poder
central nos trata como “enteados” só porque a nossa dimensão geográfica e
politica não nos torna apetecíveis e por isso as estradas que não temos, o
caminho-de-ferro que se mantem “quase” como na data em que foi implantado, os
serviços de saúde e de ensino, o próprio tribunal, também eles a pagarem o
preço de estarem aqui instalados.
Sabemos tudo isso mas conhecemos
também (sentimo-lo) o sentimento expresso por um antigo operário corticeiro e
que Jorge Murteira utilizou para titularizar o brilhante documentário que fez
sobre os últimos dias da fábrica. Sim acreditamos que a “ideia nunca acaba” e
por essa razão acreditamos que é (ainda é) possível reerguer Portalegre.
Assim o queiramos!
Diogo Júlio Serra
* O título deste texto e o nome do documentário sobre a Robinson da autoria de Jorge Murteira saíram, por culpa minha, com um erro. O título do documentário é " A ideia nunca abala! deveria ter sido, também o título do artigo. O erro foi detetado por um amigo. Obrigado Luís Nogueiro!