quarta-feira, 24 de julho de 2024

A IDEIA NUNCA ABALA!

 


A ideia nunca acaba!*

Portalegre cidade e região estão a comemorar o 23º aniversário do Museu da Tapeçaria Guy Fino, museu que preserva e expõe os saberes e a arte da Tapeçaria de Portalegre.

O Museu mantém viva a ousadia de três homens, Guy Fino, Manuel Celestino e Manuel do Carmo Peixeiro, que nos anos 50 do século passado impuseram Portalegre num mundo até então exclusivo de França e da Flandres e da competência e arte das tapeceiras de Portalegre consideradas por Jean Lurçat como as melhores tapeceiras do mundo.

Uma semana antes os portalegrenses e quantos nos visitaram puderam viver um “Mercadinho das Artes que transformou a Av. da Liberdade num oásis de cor, arte e salutar convivência inter-geracional.

Uma e outra iniciativas a provarem que é possível encontrar caminhos novos capazes de suprirem ou, no mínimo amenizarem, a apatia que nos tem tolhido e, quantas vezes, nos impede de reagir às malfeitorias de quem lá longe ou entre nós teima em condenar-nos a uma cidadania de escalão inferior.

Sim, eu sei que os golpes tem sido profundos.

Sei, todos sabemos, a situação comatosa vivida pela Manufatura que produziu e distribuiu por “todo o mundo” as tapeçarias de Portalegre. Que a FINO´s , sua prima-irmã e onde eram tingidas as lãs com as mil e uma cores necessária às tapeceiras já há muito encerrou. Que a velhinha Robinson onde chegaram a laborar cerca de dois mil operários, está encerrada e, até o seu riquíssimo património industrial está não apenas inaproveitado como em risco de ruir.

Sim. Sabemos que o Núcleo Museológico da Igreja de S. Francisco, onde foram investidos muitos milhares de euros, está não só encerrado como tem em risco todo o acervo nele depositado.

Sei, sabemos todos, que a Fundação Robinson foi assassinada como já o havia sido a empresa que lhe deu o nome e não se consegue sequer potenciar o valoroso património (sete hectares no centro da cidade) e uma fábrica típica do seculo XIX ainda capaz de demonstrar as técnicas de fabrico da rolha e aglomerados de cortiça.

Sabemos que está fechado e abandonado o antigo Sanatório enquanto se vão desfazendo os projetos anunciados de aproveitamento turístico. E sim, acompanhamos as preocupações dos que antecipam o mesmo fim para solares e conventos, quando deixarem de ser quartéis militares e militarizados e passarem a ter que ser mantidos pelos seus proprietários.

O café alentejano, o cine teatro Crisfal, o bairro da Vila Nova aí estão para nos recordar.

Sabemos também que o poder central nos trata como “enteados” só porque a nossa dimensão geográfica e politica não nos torna apetecíveis e por isso as estradas que não temos, o caminho-de-ferro que se mantem “quase” como na data em que foi implantado, os serviços de saúde e de ensino, o próprio tribunal, também eles a pagarem o preço de estarem aqui instalados.

Sabemos tudo isso mas conhecemos também (sentimo-lo) o sentimento expresso por um antigo operário corticeiro e que Jorge Murteira utilizou para titularizar o brilhante documentário que fez sobre os últimos dias da fábrica. Sim acreditamos que a “ideia nunca acaba” e por essa razão acreditamos que é (ainda é) possível reerguer Portalegre.

Assim o queiramos!

Diogo Júlio Serra

* O título deste texto e o nome do documentário sobre a Robinson da autoria de Jorge Murteira saíram, por culpa minha, com um erro. O título do documentário é " A ideia nunca abala! deveria ter sido, também o título do artigo. O erro foi detetado por um amigo. Obrigado Luís Nogueiro!