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As
Portas que Abril abriu…
Na caminhada
eleitoral que ontem terminou tomei partido de forma empenhada pela coligação
onde se integra o Partido onde milito, o PCP. Fi-lo, como militante empenhado e
como mandatário distrital da candidatura por Portalegre, na companhia de muitos
outros democratas e com os companheiros e companheiras que deram rosto à
candidatura, a Fátima Dias, o Manuel Coelho, a Susana Teixeira e o Pedro Reis procurámos
levar a todo o distrito, concelho a concelho, porta a porta, uma mensagem que
era e é de proposta, de dignidade e de confiança.
Os resultados
obtidos no distrito e no país ficaram muito aquém do que entendo ser necessário
para conseguirmos o país e a região que merecemos e, no que concerne ao nosso
distrito, o respeito que devemos merecer dos governos centralistas e surdos às
nossas reivindicações e necessidades.
Os resultados
obtidos pelo bloco da direita e a subida desmesurada das forças anti-sistema
democrático nestas eleições constituem um factor negativo para a resposta e
solução de problemas com que os trabalhadores, o povo e o país se confrontam.
Facilitam o caminho de retrocesso e de ataque a direitos e favorecem o grande
capital e os interesses estrangeiros prosseguindo o percurso de sempre de PSD e
CDS.
Potenciam a
ofensiva contra o regime democrático, as instituições e a própria Constituição.
Os resultados
agora obtidos pela AD e pela direita não democrática são inseparáveis das
opções da governação que impuseram as políticas de direita, geradoras de injustiças
e que acentuaram o legítimo descontentamento face ao acumular de dificuldades
por parte dos trabalhadores e do povo.
Essa governação de dezenas de anos, agora
acentuada com a maioria absoluta do PS, favoreceu o discurso demagógico, da
extrema-direita e levou muitos milhares a acreditarem que estaria aí a
resolução para os problemas que os afectam e a esquecerem a acção passada do
PSD e do CDS e os seus projectos para a voltarem a pôr de pé.
O resultado
da CDU, com a redução da sua representação parlamentar (menos dois deputados) uma
percentagem e um número de votos abaixo dos resultados de há dois anos,
significa um desenvolvimento negativo, que importa inverter.
Os resultados
alcançados no país e também no nosso distrito, não deixando de constituir uma
expressão de resistência face a um clima fabricado e caracterizado pela
hostilidade e menorização, pela prolongada falsificação de posicionamentos do PCP, não serão apenas isso.
O clima fabricado
para alimentar preconceitos anti-comunistas e estreitar o seu espaço de
crescimento, para esconder da sua voz e as soluções e política alternativas que
propõe não pode fazer esquecer-nos, à CDU e ao PCP, que importa olhar
também para dentro de casa e intervir, já, naquilo que está nas nossas mãos
fazer.
Importa
questionar, de novo e mais profundamente, como melhorar a comunicação. Como
tornar mais eficaz o combate à mentira e à calúnia que alimenta o preconceito
anti-comunista, como fazer chegar a nossa mensagem e as nossas propostas, por
meios alternativos comunicação social que o capital transformou em megafones
das suas ideias e projetos.
No Alto
Alentejo a eleição de um deputado pela extrema-direita não democrática é um
ponto negro da nossa vida democrática mas não significa, estou absolutamente
certo, a existência entre nós, desses milhares de cidadãos saudosistas do
“estado novo”, apoiantes convictos do ódio e da xenofobia, que o programa e a
vontade dessa agremiação representam.
Estou
absolutamente certo que essa postura dos milhares de eleitores que engrossaram
a votação desse agrupamento o fizeram empurrados pelo ostracismo que eles, os
seus problemas e o nosso território, têm sido votados. Retornarão ao local de
onde “fugiram” logo que sejam confrontados com o logro em que caíram. Todos,
eles e elas, serão recuperados pela lucidez e pela democracia.
Mas,
entretanto, no curto prazo, como vai ser? Não são poucos os que me têm feito
chegar a sua inquietação encerrada na expressão, e agora?
Agora,
libertos da emoção (e da dor) que ontem vivemos, a resposta é muito clara. Os
trabalhadores e o povo, do distrito e do país, podem contar com a CDU com a
coragem de sempre, para defender os seus direitos, enfrentar os interesses dos
grupos económicos e das multinacionais, afirmar os valores de Abril e o que
eles transportam de referência para a construção de um Portugal de progresso e
soberano.
No nosso
distrito e no que ao PCP diz respeito, a mesma clareza na resposta. Quando
aqueles que elegemos se esquecerem que nós (o distrito e todo o interior)
existimos seremos nós, os do costume, a estarmos com os trabalhadores e as
populações, nos locais de trabalho e nas ruas, nas autarquias e nas
associações, em defesa dos direitos que temos e nos avanços que desejamos.
No caso
concreto do Alto Alentejo, espero estar certo, serão também aqueles outros alto-alentejanos
que se candidataram e não foram eleitos, a continuarem cá e a fazerem aquilo
que alguns dos que “elegemos” prometeram e esquecerão rapidamente.
E, porque
Abril se cumpre sempre que se afirma a liberdade, os resultados melhores ou
piores para quem os observa, só são possíveis porque houve e há Abril.
Que Viva
Abril!
Diogo Júlio
Serra