quarta-feira, 17 de maio de 2023

ALIMENTAR A ESPERANÇA, FAZER GUERRA À GUERRA!

 





Alimentar a Esperança

Fazer Guerra à Guerra

O belo lema que o Banco Alimentar contra a Fome escolheu para a campanha que tem em curso, ilustra na perfeição uma das maiores necessidades com que nos debatemos, também na nossa cidade e região.

Faltar-lhe-á, talvez, incorporar a segunda frase que coloquei no presente título para tornar mais perceptíveis as razões que nos têm vindo a roubar a esperança e levado muitos à desistência… dos sonhos e dos valores que nos devem nortear mas, diz o nosso povo, “para bom entendedor meia palavra basta”.

As diferenças existirão (ainda bem que existem) na perspectiva de cada um face aos caminhos para alimentarmos a esperança, num tempo e num território em que para a maioria de nós, cada vez mais, sobra mês e faltam rendimentos para garantirmos uma vida minimamente confortável.

Para alguns, geralmente os que não são afectados pelo “crescer do mês e diminuição do rendimento” ou sendo-o não conseguem libertar-se da cegueira imposta pelo preconceito ou das amarras com que a comunicação dita de referência os vão enredando, a culpa é da guerra, do “socialismo” (encarado como o governo do partido socialista) ou para os mais “contaminados” do 25 de Abril. Como se a Guerra nascesse de forma espontânea, o partido do governo aplicasse políticas de esquerda ou os caminhos de Abril não tivessem sido bloqueados pelos que saíram da gaveta, porventura a mesma onde Mário Soares colocou o “socialismo”.

Para os que conseguem resistir à formatação do pensamento e da acção que os papagaios do capital persistem em impor-nos, a “desesperança” que se está a apoderar da nossa sociedade tem razões e responsáveis que urge combatermos. Só assim estaremos a Alimentar a Esperança, a garantirmos-lhe a sobrevivência.

E a hora é de agir!

Até porque são cada vez mais (no Alto Alentejo e na nossa cidade, também) os que não conseguem pôr comida na mesa, os que não conseguem pagar a casa, seja a renda ou a prestação. Os que apesar de trabalharem (particularmente os jovens a quem se aplica a mais feroz precariedade) não conseguem o empréstimo bancário para a compra de casa ou tão só a garantia que o senhorio exige para proceder ao arrendamento. Os que apesar de trabalharem todos os dias do mês, são abrangidos pelo RSI porque o salário que auferem não lhes permite garantir o sustento da família.

Se a culpa é da guerra que as potências capitalistas impuseram, de novo em solo europeu, combata-se a guerra em vez de alimentá-la.

Se a culpa é da falta de meios para gizar e aplicar politicas que combatam as dificuldades que atormentam as famílias e criam a desesperança, que se distribua a riqueza produzida, que se combata a concentração das benesses e da riqueza não mãos de muito poucos e se apliquem no reforço do Serviço Nacional de Saúde, na Educação, nas acessibilidades, na melhoria dos salários e das pensões.

Que se trave e inverta a vergonhosa política de nacionalizar falências e privatizar lucros e, já agora, que se trave a vergonhosa decisão de reprivatizar a TAP onde foram injectados milhões saídos diretamente dos impostos dos portugueses e dos salários dos seus trabalhadores.

E não, a culpa não é do Socialismo porque uma palavra não tem qualquer culpa ou mérito pelas políticas aplicadas em cada território. Ninguém é lindo só porque se chama Belo!

Muito menos a desesperança pode ser atribuída ao 25 de Abril como os mais saudosistas proclamam. É precisamente o contrário! É o incumprimento dos valores que o 25 de Abril nos trouxe e a Constituição, mesmo amputada, consagra, que nos tem conduzido à situação que hoje vivemos.

Importa por isso exigir de quem tem a responsabilidade (porque o jurou) de cumprir e fazer cumprir a Constituição, que cumpra o seu dever. Importa, também, exigir de quem solicitou e obteve uma maioria absoluta para governar, que governe!

A hora é de exigência e acção!

Não podemos permitir que as guerras de Alecrim e Manjerona se substituam à obrigação de garantir ao país e aos portugueses as condições e os direitos que merecemos e de que não podemos/queremos abdicar.

É tempo de exigir dos governantes -Presidente da Republica, Governo, Assembleia da Republica- que deixem de “olhar para o seu umbigo” e cumpram as obrigações que os cargos lhes impõem.

É tempo de exigir da Comunicação Social que se liberte das amarras de quem lhes paga, deixe de ser megafone dos poderes e cumpra o seu papel imprescindível de dar voz aos desejos e necessidades do povo e do país.

É tempo de exigir alto e bom som que em vez de se amputar, se cumpra a Constituição da Republica Portuguesa, se CUMPRA ABRIL!

 

Diogo Júlio Serra