quarta-feira, 21 de julho de 2021

NÃO HÁ TERRITÓRIOS POBRES...

 



Não há territórios pobres. Há territórios sem projecto!(*)

A afirmação com que titulo este texto expressa o que há muito penso da nossa região e particularmente dos nossos concelho e cidade e que foi reforçado, nos últimos dias, por uma série de iniciativas em que participei.

Permitam-me enumerá-las: a assinatura do Protocolo de colaboração entre o IDECI e o Grupo angolano MOCAP; o 20º aniversário do Museu da Tapeçaria - Guy Fino; o Debate Temático Biodiversidade, Sistemas Produtivos, Trabalho com Direitos organizado pelo AMALENTEJO.

No primeiro destes eventos, realizado no passado dia 2 de Julho, a celebração de um protocolo de cooperação entre o Instituto sedeado em Portalegre e o Grupo Angolano que inclui a Universidade de Belas, o Instituto Politécnico Maria Osvalda, duas escolas de saúde (Escola Média Anuarite Kilamba e Escola Técnica MOCAP) e o Instituto Médio Agrário, foi-nos permitido saber do contributo do IDECI para a vinda do Centro de Desenvolvimento SOFTINSA/IBM para Portalegre e do reforço de alunos cabo-verdianos no Politécnico.

A segunda iniciativa e em particular as comemorações que o assinalaram e nas quais participei em representação da Entidade Regional de Turismo, permitiu constatar, a excelência da Tapeçaria de Portalegre e de quem garante o acrescentar arte à que ali lhes chega pelos cartões dos grandes pintores do nosso tempo. Serviu também, infelizmente, para constatar que aos elogios (merecidíssimos) de quem tem o poder de decidir não têm correspondência em ações e políticas capazes de colocar a jóia que aqui nasceu e aqui se mantém, no lugar que ela, a cidade e o país precisam e merecem.

A terceira e última dessas iniciativas, o debate temático preparatório do Congresso que os Alentejanos marcaram para Estremoz e que a pandemia não tem permitido concretizar, foi a confirmação plena de que Portalegre, o distrito e a região têm produtos, competências e saberes que é quase criminoso não potenciar convenientemente.

O Debate que decorreu sob o Lema “Desenvolvimento Sustentável do Alentejo” e que tive a honra de moderar, foi elucidativo do muito de bom que não potenciamos devidamente e do muito mau que nos aflige e que não temos sabido (ou não nos tem sido permitido) ultrapassar.

Os Politécnicos de Beja e de Portalegre mostraram-nos pelas comunicações dos seus representantes – os docentes e investigadores Fátima Carvalho e Paulo Brito que também as instituições do saber instaladas na região estão na linha da frente e a partir daqui desenvolvem ideias e projectos do melhor que se faz no país.

Em Beja, os projectos de purificação, combate ao desperdício e reaproveitamento da água e em Portalegre com o trabalho desenvolvido para transformar os resíduos em energia e a sua disponibilização às empresas e instituições da região e adaptadas à sua dimensão e necessidades.

Também aqui, como já sucedera quanto às tapeçarias, a certeza absoluta que na Região se faz do melhor que se faz no país mas que a organização politico-administrativa teima em não perceber e valorizar.

As restantes comunicações, do Movimento Chão Nosso e dos Sindicalistas do distrito refletiram, no primeiro caso com a Arquiteta Inês Fonseca a trazer-nos uma interessante reflexão em torno dos impactes das culturas intensivas no Alentejo, dando voz às preocupações das populações e constatando que a ciência (ficou ali demonstrado) tem soluções para grande parte dos impactes mais negativos.

 Por último com os dirigentes sindicais a mostrarem o retrato da região (que afirmaram não é diferente do nacional) com uma economia baseado no trabalho barato e sem direitos e, por isso, incapaz de fixar e muito menos atrair a mão-de-obra jovem e qualificada que a região necessita.

No final a constatação que não somos os “pobrezinhos” que as estatísticas registam. Somos é sistematicamente despojados das ferramentas necessárias a potenciar os nossos (muitos) pontos em que somos claramente dos da frente.

Falta-nos Projecto! Seja ele corporizado por autarcas empenhados e competentes. Seja-o em políticas nacionais para a região, seja-o pela concretização do que a Constituição garante e os Alentejano tem mostrado querer - A Região Administrativa que consagre a “bandeira” que nos une: Alentejo - um Povo, uma Cultura, uma Região!

Diogo Júlio Serra

(*) Publicado no Jornal Alto Alentejo  de 21-7-2021

quarta-feira, 7 de julho de 2021

PORQUÊ?

 



Porquê?Porquê?Porquê?*

A Assembleia Municipal aprovou na última reunião, um conjunto de iniciativas que, são público reconhecimento do percurso de vida de algumas personalidades do nosso concelho ou que a ele estiveram ligados.

Alguns, infelizmente, através do voto de pesar pela sua morte, como foram os casos de José Manuel Barradas e do Padre Américo e outros dois, um deles igualmente já falecido, pela obra ímpar que nos legaram.

São os casos de Jorge Feliciano Arranhado a quem a Assembleia Municipal propôs homenagear, dando o seu nome ao edifício onde irá instalar-se o ninho de empresas e que foi sede da primeira instituição operária não mutualista, a Sociedade União Operária e mais tarde sede do Sport Clube Estrela, agremiação que Jorge Arranhado presidiu e de Fernando Soares, primeiro Presidente de Câmara eleito pelos portalegrenses e que, entre outras obras, nos legou o maior núcleo habitacional do concelho, o Bairro dos Assentos.

Honram o concelho e os seus órgãos democráticos, as posições então aprovadas pela Assembleia Municipal. A maioria delas por unanimidade dos presentes e só uma, estranhamente, contra a vontade do CLIP que votou em bloco contra este reconhecimento a Jorge Feliciano Arranhado e fê-lo sem qualquer explicação, sem ter feito qualquer intervenção durante a discussão da proposta, sem qualquer declaração de voto que nos elucide das razões do seu não.

Terá aquela bancada razões poderosas para não se integrar na justa homenagem da Assembleia Municipal? Talvez, mas como não as elucidou, fica a dúvida que não sejam as mesmíssimas razões que levaram alguns, durante muitos anos da vida deste ilustre portalegrense a procurarem isolá-lo, retirarem-no ao convívios dos seus e da sua cidade, retirarem-lhe a liberdade e calarem a sua voz.

Os portalegrenses ainda estão lembrados das perseguições que lhes moveram mas também da sua (e de muitos outros) resistência. E lembram sobretudo o seu percurso profissional e social que o texto aprovado regista com exatidão: “Jorge Arranhado, empresário portalegrense já falecido, foi um empreendedor e impulsionador da atividade comercial em Portalegre, modernizando-a e conferindo-lhe um importante caráter social de promoção de emprego e prestação de serviços.

Um inovador, na sua época, Jorge Arranhado foi também um filantropo e benemérito de atividades culturais e desportivas das diversas associações portalegrenses, tendo presidido ao Sport Clube Estrela, mesmo quando esteve proibido devido às suas posições contra o regime do Estado Novo…”

Estarão aqui as razões que justificam o voto contra do CLIP? Ou o porquê de tal posição encontra-se no que aqui não está escrito mas que levou a que também a PIDE não gostasse da sua obra?

Ou porque, tão só, não sabem quem foi e o que fez? Porque não conhecem Portalegre e os portalegrenses?

Na verdade, são muitos os porquês que tal posição nos suscita. E não os conhecendo atrevo-me a vaticinar que independentemente desses porquês o CLIP resolveu dar (mais) um tremendo tiro no pé!

Diogo Júlio Serra

* publicado no jornal do Alto Alentejo de 7-7-2021