Não há
territórios pobres. Há territórios sem projecto!(*)
A afirmação com que titulo este texto
expressa o que há muito penso da nossa região e particularmente dos nossos concelho
e cidade e que foi reforçado, nos últimos dias, por uma série de iniciativas em
que participei.
Permitam-me enumerá-las: a assinatura do
Protocolo de colaboração entre o IDECI e o Grupo angolano MOCAP; o 20º aniversário
do Museu da Tapeçaria - Guy Fino; o Debate Temático Biodiversidade, Sistemas Produtivos,
Trabalho com Direitos organizado pelo AMALENTEJO.
No primeiro destes eventos, realizado no
passado dia 2 de Julho, a celebração de um protocolo de cooperação entre o
Instituto sedeado em Portalegre e o Grupo Angolano que inclui a Universidade de
Belas, o Instituto Politécnico Maria Osvalda, duas escolas de saúde (Escola
Média Anuarite Kilamba e Escola Técnica MOCAP) e o Instituto Médio Agrário,
foi-nos permitido saber do contributo do IDECI para a vinda do Centro de
Desenvolvimento SOFTINSA/IBM para Portalegre e do reforço de alunos cabo-verdianos
no Politécnico.
A segunda iniciativa e em particular as
comemorações que o assinalaram e nas quais participei em representação da
Entidade Regional de Turismo, permitiu constatar, a excelência da Tapeçaria de
Portalegre e de quem garante o acrescentar arte à que ali lhes chega pelos
cartões dos grandes pintores do nosso tempo. Serviu também, infelizmente, para
constatar que aos elogios (merecidíssimos) de quem tem o poder de decidir não
têm correspondência em ações e políticas capazes de colocar a jóia que aqui
nasceu e aqui se mantém, no lugar que ela, a cidade e o país precisam e
merecem.
A terceira e última dessas iniciativas,
o debate temático preparatório do Congresso que os Alentejanos marcaram para
Estremoz e que a pandemia não tem permitido concretizar, foi a confirmação
plena de que Portalegre, o distrito e a região têm produtos, competências e
saberes que é quase criminoso não potenciar convenientemente.
O Debate que decorreu sob o Lema
“Desenvolvimento Sustentável do Alentejo” e que tive a honra de moderar, foi
elucidativo do muito de bom que não potenciamos devidamente e do muito mau que
nos aflige e que não temos sabido (ou não nos tem sido permitido) ultrapassar.
Os Politécnicos de Beja e de Portalegre
mostraram-nos pelas comunicações dos seus representantes – os docentes e
investigadores Fátima Carvalho e Paulo Brito que também as instituições do
saber instaladas na região estão na linha da frente e a partir daqui desenvolvem
ideias e projectos do melhor que se faz no país.
Em Beja, os projectos de purificação,
combate ao desperdício e reaproveitamento da água e em Portalegre com o
trabalho desenvolvido para transformar os resíduos em energia e a sua
disponibilização às empresas e instituições da região e adaptadas à sua dimensão
e necessidades.
Também aqui, como já sucedera quanto às
tapeçarias, a certeza absoluta que na Região se faz do melhor que se faz no
país mas que a organização politico-administrativa teima em não perceber e
valorizar.
As restantes comunicações, do Movimento
Chão Nosso e dos Sindicalistas do distrito refletiram, no primeiro caso com a Arquiteta
Inês Fonseca a trazer-nos uma
interessante reflexão em torno dos impactes das culturas intensivas no
Alentejo, dando voz às preocupações das populações e constatando que a ciência
(ficou ali demonstrado) tem soluções para grande parte dos impactes mais
negativos.
Por
último com os dirigentes sindicais a mostrarem o retrato da região (que
afirmaram não é diferente do nacional) com uma economia baseado no trabalho
barato e sem direitos e, por isso, incapaz de fixar e muito menos atrair a mão-de-obra
jovem e qualificada que a região necessita.
No final a constatação que não somos os
“pobrezinhos” que as estatísticas registam. Somos é sistematicamente despojados
das ferramentas necessárias a potenciar os nossos (muitos) pontos em que somos
claramente dos da frente.
Falta-nos Projecto! Seja ele corporizado
por autarcas empenhados e competentes. Seja-o em políticas nacionais para a
região, seja-o pela concretização do que a Constituição garante e os Alentejano
tem mostrado querer - A Região Administrativa que consagre a “bandeira” que nos
une: Alentejo - um Povo, uma Cultura, uma Região!
Diogo Júlio Serra
(*) Publicado no Jornal Alto Alentejo de 21-7-2021