terça-feira, 24 de março de 2020




Fundação Robinson? Sim. Sim. Sim!*

A velhinha Robinson e o seu riquíssimo património, a Fundação que a devia preservar e o Município que verdadeiramente a comanda voltaram a ser motivo de discussão político-partidária, de notícias na comunicação social e de acaloradas discussões à mesa dos cafés ou nas redes sociais.
De novo por maus motivos!
Desta vez o que a trouxe de novo à ribalta foram as trapalhadas do Município e do “seu concelho de Administração” e particularmente, o “puxão de orelhas” que o Tribunal de Contas resolveu atribuir a quem tão mal a gere. Tudo a propósito da peregrina ideia de retirar da esfera pública uma parte significativa do valioso património integrado no Espaço Robinson para o colocar em mãos privadas e de usar quem deve defender o que é de todos (a Câmara Municipal) como agente facilitador da sua “apropriação” por interesses privados.
Pelo meio a transformação, de novo, da velhinha corticeira e do espaço onde se insere em arma de arremesso político-partidário e a demonstração clara da prepotência, incompetência e desleixo de quem tem a obrigação de cuidar mas que se afirma não como cuidador da coisa pública mas, de facto, como Comissão Liquidatária da cidade e do concelho.
Vamos a factos.
O Executivo Municipal – o mesmo que não cumprem com os compromissos financeiros assumidos com a Fundação Robinson – e o Conselho de Administração que nomeou, resolveram passar parte do património Robinson para um grupo hoteleiro que, dizem, está interessado em ali construir um Hotel.
Para tornar possível essa intenção envolveram-se numa negociata tão ferida de bom senso e de legalidade que levou o Tribunal de Contas a chumbar a operação.
Termos como utilização de “porta giratória de interesses” “negócio consigo mesmo” abrem caminho à decisão do Tribunal de Contas de recusar o visto à minuta da escritura… e ainda as determinações de levar a sua decisão ao conhecimento:
a)      Do Juiz responsável pela 2ª Sessão do Tribunal de Contas;
b)      Da Inspecção Geral de Finanças, tendo especialmente em vista os poderes cometidos a esta em matérias de fiscalização das Autarquias Locais e das fundações públicas de direito privado;
c)      Da Direcção Geral do Património Cultural, tendo especialmente em vista o disposto na Lei de Bases da política e do regime de protecção do património cultural.
Quer os termos utilizados quer a decisão deveriam envergonhar os responsáveis pelas medidas ali analisadas. Todavia, parece, estes optaram pela tentativa de esconder o documento e branquear as suas acções.
Só o Presidente do Conselho de Administração da Fundação Robinson e vice-Presidente da Câmara, apresentou a demissão do CA da Fundação Robinson enquanto os restantes fingem não compreender a gravidade das suas acções e continuam a tentar “esconder o lixo debaixo do tapete”.
Entretanto na Fundação os trabalhadores estão há meses sem salário, as actividades do Núcleo Museológico de S. Francisco estão paradas por falta da electricidade que a EDP mantém cortada por falta de pagamento e em diferentes patamares da nossa sociedade se procura esconder a realidade com discussões sobre questões menores: a alegada tentativa dos opositores paralisarem a governação, as ocultas intenções do Tribunal de Contas, a oposição entre Hotel ou Museu no futuro da Fundação…
Mais uma vez pretende-se fugir ao fundamental empolando o que é acessório. E o fundamental é, em minha opinião, definir os caminhos de um futuro que mantenha o Espaço Robinson ao serviço da cidade e dos portalegrenses, garantir politicas que potenciem todo o seu património como alavanca para o desenvolvimento, que de uma vez por todas, libertem a velhinha Robinson e o vasto e rico património que mantém das tricas político-partidárias, da manifesta incompetência de quem a tem destruído, dos apetites de quem a olha como instrumento de gordo lucro.
O tempo é de travar a fundo no caminho da destruição, retomar o projecto inicial e potenciar o Espaço Robinson como solução, e não problema, para Portalegre e para as suas gentes.
 E eu, como muitos outros, que aprendemos a reconhecer os terrenos, as pedras e as máquinas como parte das nossas vidas e que durante algum tempo me empenhei em tentar que o projecto retomasse os carris de onde havia sido empurrado, quero deixar claro que sou claramente pelo triplo sim.
Sim à Fundação sem vassalagem à Câmara Municipal!
Sim à musealização do espaço e ao Museu da Cortiça presentes no projecto inicial!
Sim ao Hotel e a quaisquer outros projectos turísticos se despidos do espírito predador que por norma os caracteriza e que no caso presente claramente assumia!
Diogo Júlio Serra
* publicado no Jornal Alto Alentejo de 16-03-2020