NÃO, NÃO É PELO LUTO.
É PELA LUTA QUE LÁ VAMOS!
O mês de Março é, para mim, o mais bonito dos meses
do ano.
É o mês que dá (ou dava) início à Primavera. É
(foi) em Março, que ao longo de muitos anos juntei a minha voz à de muitos mil,
jovens e menos jovens, que exigiam melhores condições de vida e de trabalho e,
na década de 60, Liberdade, Democracia e o fim da guerra colonial.
É neste mês, em cada dia 6, (já lá vão 93 anos) se
assinala o nascimento do Partido Comunista Português.
Posto isto impõe-se um esclarecimento e uma
declaração de interesses.
O esclarecimento. Não vou agora “maçar-vos” com
quaisquer informações sobre o aniversário do PCP porque disso se encarregaram
já os diferentes órgãos de comunicação nacionais e regionais que durante o próprio
dia e os dias seguintes nos “massacraram” com (o silenciar de) tal
acontecimento.
A declaração de interesses, só necessária para quem
não me conhece. Sim, sou militante deste Partido e com ele convivo desde que um
herói proletário – o António Gervásio, a ele me conduziu.
Dito isto vamos então tratar de uma outra data
importante que assinalamos em cada Março: o Dia Internacional da Mulher. A
razão que o justifica, a importância de o assinalarmos e principalmente as
razões que nos impõem que continuemos a tê-lo presente.
Primeiro a razão que o justifica e desde logo a
razão daquelas 125 mulheres têxteis que em Nova Iorque, foram assassinadas por
terem ousado exigir direitos no trabalho.
As razões e as protagonistas que mantiveram, também
em Portugal, bem acesa a exigência de serem reconhecidas como cidadãs e
trabalhadoras:
Beatriz Ângelo, primeira mulher a votar no regime
que ajudou a implantar e que de imediato lhe proibiu tal direito.
Maria Lamas – Feminista e anti-fascista. Dirigente
do MUD e do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas.
Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno, Maria
Velha Costa, autoras do livro “Novas Cartas Portuguesas” e vítimas das
perseguições e violências que lhes foram movidas pelo “estado novo”.
Catarina Eufémia, a camponesa assassinada por
exigir direitos laborais e agora, quando em média as mulheres ganham menos
15,8% que os homens, Cristina Tavares, o rosto da luta das mulheres
trabalhadoras.
No espaço não público a violência é ainda maior. Em
Portugal só neste início do ano, foram assassinadas onze mulheres e são
centenas as agredidas. São situações que justificam o dia de luto este ano
decretado mas que, como nos funerais de “antigamente” recebeu lágrimas
sentidas, a acção “profissional” das carpideiras e a apresentação de “sentidos”
pêsames por parte de muitos dos “mandantes”.
Estou firmemente convencido da verdade com que
titulei este texto. Não é com o Luto, por mais bem-intencionado, nem com o
choro das carpideiras que poderemos inverter esta sinistra situação.
Não será com afirmações piedosas e iniciativas
políticas que são muito mais show-off que acção que faremos regredir as
desigualdades gritantes entre mulheres e homens e, já agora, entre mulheres e
mulheres e entre homens e homens.
Analisemos uma medida agora amplamente anunciada
que tem “boa imprensa” mas não mudará rigorosamente nada. A legislação aprovada
pelo governo PS e que entrou em vigor a um de Março e condena a atribuição de
salário diferente para o mesmo trabalho realizado por homem ou mulher.
Não é justo? É! Vai resolver alguma coisa? Não!
Trata-se de propaganda e como tal visa fazer
barulho para deixar tudo na mesma.
O problema não está na lei. A própria Constituição
da Republica consagra o princípio de trabalho igual/salário igual. Principio
que os tratados da U.E. e o Código de Trabalho Português mantêm.
Há muito que a regulamentação do trabalho e os CCTs
deixaram de incluir tabelas diferentes para homens e mulheres. Em Portalegre os
últimos exemplos dessa discricionariedade estavam nos CCTs dos Operários
Corticeiros e foram extirpados no início dos anos 80 quando todas as categorias
profissionais passaram a estar abertas a homens e mulheres.
A “habilidade” em Portalegre e no País está no
preenchimento dos cargos mais qualificados e melhor pagos onde a norma é
“canalizar” os homens para os cargos de chefia (melhor remunerados) e as
mulheres, independentemente das qualificações e competências, para os cargos de
menor exigência e menor remuneração. Resumindo: canalizam-se os homens para as
chefias e as mulheres para auxiliares ou ajudantes dinamitando os contratos
colectivos e as normas que impunham regras de densidade nas carreiras
profissionais.
Como se vê, tudo fácil. Entretanto mantém-se as
carpideiras e as afirmações de boa vontade e, ao mesmo tempo, boicota-se a
reposição dos direitos roubados, mantem-se na lei a destruição da Contratação
Colectiva, põe-se fim ao Direito do Trabalho e destrói-se a Inspeção Geral do
Trabalho.
Pelos baixos salários impõe-se à mulher que seja
ela, no casal, a faltar para apoio à família e nega-se –lhes, por isso, o
acesso a lugares melhor remunerados.
Então como agir?
Igualmente fácil! Lutar, Lutar, Lutar! Homens e
mulheres, porque é com a Luta que lá Vamos!
Diogo Júlio Serra*
* publicado no Jornal Alto Alentejo de 13-03-2019
* publicado no Jornal Alto Alentejo de 13-03-2019