“Viv’o Santo António,
Viv’o S.João,
Viv’o 10 de junho
E a Restauração…”(*)
Portalegre está uma festa!
É assim em cada ano. Os
Santos Populares atiçam apetites e trazem à rua muitos e muitas que só amiúde
arriscam a saída.
O calor próprio da época
impõe também a necessidade de procurar à noite e pelas ruas e largos da cidade
a brisa que se escondeu ao longo de cada dia.
Bom, mas este ano há uma
razão adicional para nos tirar de casa e nem sequer é só à noite. Este é ano de
eleições.
Por essa razão os arraiais
populares ganham novos frequentadores. As sardinhas, as bebidas e as mesas mais
“expostas”, têm agora clientes (que não fregueses) em maior número e com maior
empenho.
As várias candidaturas, já
no terreno, afadigam-se para publicitarem o que fizeram ao longo do mandato,
para se mostrarem e algumas delas por necessidade acrescida para darem a
conhecer os rostos dos/as que entendem ser o melhor que podem oferecer à
cidade, ao concelho e às suas gentes.
Ainda bem que assim é! Portalegre precisa hoje, mais que nunca, do
contributo de todos.
A nossa cidade e concelho
estão carentes de ideias, de projeto e de ação.
A cidade branca é agora uma
quase lixeira a céu aberto fruto da ação (vergonhosa) de muitos dos nossos
concidadãos e da inação dos governantes;
A cidade operária é agora
uma miragem com o setor corticeiro a persistir nos salários em atraso e na
destruição de empregos e os postos de trabalho criados nas outras unidades
industriais persistem em manterem-se conhecidos pela precariedade e pelos
baixos salários;
A cidade do comércio de
proximidade está totalmente destruída arrastando consigo o despovoar do centro
histórico e colocando dentro das chamadas grandes superfícies comerciais as
sementes da destruição do trabalho valorizado e das relações próximas entre os
que compram e os que vendem.
A cidade jardim, das zonas
verdes e dos lençóis de água foi sendo assassinada pelos “Pólis” e os seus
mentores, executantes e zeladores.
A cidade património, em
particular o centro histórico, esboroa-se de forma acelerada fruto da
incapacidade económica dos proprietários particulares e da ausência de políticas
de recuperação e valorização do património construído. A própria autarquia é
proprietária de inúmeros edifícios abandonados e em ruínas.
Estas são razões
suficientes para aplaudirmos todos o todas, personalidades e instituições, que
se disponibilizam para intervir na “coisa pública”. Mas as necessidades que
registamos não devem tolher-nos a razão.
Uma coisa é a
disponibilização de saberes e de vontades para administrar a “coisa pública”
outra, bem diferente é o “chico-espertismo dos “valentins” e “isaltinos” que
também por aqui existem e esperam prosperar.
Que estamos a ser invadidos
por para-quedistas, gritam alguns. E onde é que está o mal? Pergunto eu que até
defendo que ninguém deveria poder candidatar-se a um cargo do poder local se
não residisse há pelo menos um ano no concelho em que se candidata.
O mal não está no local
onde os candidatos nasceram, exerceram a sua atividade e residem. O mal está em
alguns quererem vir fazer de nós, os que aqui nascemos, construirmos a nossa
família, trabalhamos e resi(sti)dimos, parvos, cegos e mudos.
E se é verdade que algumas forças politicas (por não descobrirem
no seu seio portalegrenses com capacidade, disponibilidade e vontade de
defenderem o seu projeto politico?) nos apresentam como candidatos, autarcas
eleitos (ainda em funções) em concelhos limítrofes, é um problema dessas
instituições.
Problema nosso é quando
algum candidato utiliza o cargo que ainda ostenta para propagandear as suas
virtudes. Esse sim já é problema nosso, porque se trata de publicidade enganosa,
de concorrência desleal entre as partes e sobretudo, de utilização indevida de
fundos públicos.
Entretanto que a
continue(m) a(s) festa(s)e que independentemente de cada olhar coloquemos
sempre, Portalegre primeiro|
Diogo Serra
Deputado Municipal.
(*) publicado no Jornal Fonte Nova de
20-06-17