quinta-feira, 28 de abril de 2016

Não podem ser os de fora a condicionarem o futuro do país




Diogo Júlio Serra*
O país conheceu agora os números sobre o Programa de Estabilidade. Os números revelados colocam o défice em 1,4% do PIB (em vez dos 2,2% anteriormente anunciados) o que significa uma redução superior a 1.400 milhões de euros, referente à proposta anterior.
É o resultado da pressão exercida pela Comissão Europeia, privilegia cortes sucessivos e indiscriminados no défice público, e prejudica políticas de crescimento económico e de melhoria das condições de vida da população.
Ao anúncio de uma redução mais intensa do défice público soma-se, pois, a revisão em baixa das projeções para o crescimento do PIB, para um nível claramente insuficiente para a criação de emprego sustentado e com direitos.
É aliás sintomática a manutenção da taxa de desemprego em 11,3% (média nacional mas que no distrito é largamente superior), situação inaceitável face às necessidades e às expectativas geradas em torno do compromisso do Governo do PS em inverter o rumo de empobrecimento e de exploração preconizado pela política de direita.
O Programa de Estabilidade não pode condicionar o futuro do país!
É preciso ter a coragem de dizer BASTA, tanto mais que é conhecida a diferença de tratamento que a Comissão Europeia dá a Portugal m relação a outros países da União Europeia com economias mais robustas.
O agora anunciado para Espanha mostra bem quão diferentes as formas de tratamento. Uma adequada dilatação de prazos (mais um ou dois anos) para conseguirem a redução do seu défice enquanto para nós é o forçar prazos mais curtos para uma maior redução do défice público ao mesmo tempo que ataca medidas fundamentais ao crescimento e desenvolvimento do país como a reposição dos salários, o aumento do salário mínimo nacional, a melhoria das pensões de reforma e a reposição dos quatro feriados que haviam sido retirados.
O Norte Alentejano conhece como nenhuma outra sub-região os efeitos das políticas preconizadas pela Comissão Europeia e os outros membros da troica.
Aqui, o desemprego atinge números insustentáveis e entre os que conseguiram manter o posto de trabalho crescem as situações de pobreza extrema.
A maioria da população, constituída por reformados e por desempregados é obrigada a sobreviver com um rendimento médio inferior a 350 euros mensais o que justifica quer o encerramento do comércio tradicional e das empresas de serviços de apoio à população e à economia local, quer a manutenção dos altos números dos que saem do território.
Os que ficam, por opção ou por não terem já condições que lhes permitam sair, são confrontados com condições de vida altamente penalizadoras e contrárias ao desenvolvimento económico e social: isolamento, constrangimentos no acesso aos cuidados de saúde, aos serviços de ensino e à cultura.
Como bem sabemos, o Norte Alentejano é o único distrito cuja capital não é servida por uma autoestrada, nem sequer com estradas com um mínimo de condições, que durante anos não teve acesso ao transporte ferroviário de passageiros e o que agora dispõe é de péssima qualidade e insuficiente, que não tem tido nem tem acesso fácil e económico às redes de informação e não tem os apoios necessários para que o ensino superior aqui instalado possa manter a sua atividade e contribuir para o desenvolvimento do território.
É absolutamente claro para quantos aqui vivemos e trabalhamos que urge dar combate às despesas públicas supérfluas e que não dão resposta aos interesses das populações.
É reconhecido por todos que importa pôr travão aos sucessivos e astronómicos apoios do estado ao setor financeiro, acabar com os encargos com as parcerias público-privadas, com os encargos especulativos a pagar à banca (swap), reduzir drasticamente os custos com a contratação de serviços externos para realizarem tarefas que podiam ser feitas pela administração pública. O que não é assim claro e que não podemos aceitar é que para dar resposta a eventuais cortes no défice se voltem a sacrificar os mesmos: os trabalhadores e os pensionistas e a generalidade das populações através da penalização das funções sociais do estado e serviços públicos para as populações.
Este é o momento de romper com a política de espoliação a que o país e em particular os territórios do interior têm sido sujeitos.
Este é o tempo de colocar a economia ao serviço das populações e da necessária coesão territorial.
É um tempo que exige de governantes e governados a capacidade de rompermos espartilhos e afirmarmo-nos como povo independente num país com quase nove séculos de história.
É agora o momento.

* publicado no Jornal Fonte Nova de 27 de Abril de 2016