O Alentejo tem sede
de “gente”!
O Alentejo, como a generalidade do interior português, é um território onde
se acentuam o despovoamento e o envelhecimento dos que persistem em ficar.
De 1960 a 2011 a situação não parou de agravar-se, como confirmam os censos
realizados.
No ano de 1960 residiam nos 47 concelhos alentejanos, 770.965 pessoas
enquanto em 2011, último censo realizado, esse número era de apenas 509.149. Ou
seja, em apenas cinco décadas o Alentejo perdeu 33,56% da sua população.
A perda de população tem vindo a intensificar-se em todo o território. Os
censos de 2011 mostram que em toda a região apenas cinco concelhos registaram,
entre 2001 e 2011, ligeiros aumentos populacionais: Sines (5,03%); Campo Maior
(4,8%); Viana do Alentejo (2,33%); Vendas Novas 1,88%) e Évora (0,98%).[1]
Acresce que a perda contínua da população atinge fundamentalmente os
alentejanos em idade ativa o que contribui para o acelerado envelhecimento da
população residente. Tanto mais, que no mesmo período em que baixava a população
total, baixava igualmente a população ativa e crescia exponencialmente a
população residente com mais de sessenta e cinco anos.
A questão demográfica é hoje um dos principais problemas que se coloca ao
Alentejo que já não tem capacidade de se auto regenerar, seja no contexto
natural, seja pela incapacidade de atração de novos residentes pelo que importa
encontrar caminhos capazes de parar e inverter o trajeto que nos tem impelido
para esta situação.
Refletir sobre as razões e as políticas que são a origem do problema vem
sendo feito desde há muito. Aliás, no Alentejo o que não faltam são bons
diagnósticos. Onde sistematicamente se tem falhado é na definição de
estratégias fruto, sobretudo, do medo que o Alentejo desenvolvido e com gente
sempre provocaram nos detentores do poder.
O que nos tem condenado a uma situação de marginalizados é a postura
latifundista que nunca deixou os governantes e as chamadas elites regionais. Só
esse sentimento alicerçado nas políticas impostas pode justificar as
dificuldades em mantermos e atrairmos jovens e menos jovens quando dispomos na
região de tudo o que de melhor existe no país no que respeita a qualidade
ambiental, riqueza cultural e patrimonial, segurança, infraestruturas de ensino
e de lazer.
O Alentejo tem sede de gente mas tem todas as condições para a atrair e
fixar. Para tanto basta adicionar às excecionais condições naturais e culturais
um projeto de desenvolvimento que garanta emprego de qualidade aos que aqui
vivem e aos muitos que gostariam de aqui viverem.
Potenciar as condições existentes e transformar o território garantido o bem-estar
das suas gentes tem sido e continuará a ser o combate de quantos, pessoas e
organizações, desde há muito reclamam para o Alentejo um tratamento em pé de
igualdade com o que recebem outras regiões do país.
O Alentejo não precisa de “favores”. Precisa e exige ser tratado com
justiça!
Não reclama tratamento de favor quando exige o direito a ter vias rodoferroviárias
que quebrem o isolamento a que foi votado. Vias que permitam a entrada no
território e potenciem as excecionais condições para o turismo mas que permitam
também, o contacto célere dentro da região e desta para o exterior.
Vias rodoferroviárias que potenciem a privilegiada situação geográfica da
região entre as áreas metropolitanas de Lisboa e Madrid e corredor privilegiado
para o comércio entre o arco atlântico e a Europa (corredor Sines/Badajoz).
Não reclama tratamento de favor, mas justiça, quando exige aumento do
investimento público em infraestruturas, nomeadamente na ferrovia (passageiros
e mercadorias) e nos portos. Não só por ser necessário inverter o desequilíbrio
existente a favor da rodovia, patente quer no movimento de passageiros quer no
de mercadorias, e do transporte individual quer pela necessidade de reverter as
politicas erradas que levaram a que vastas áreas do território tenham no que ao
transporte de passageiros diz respeito, regredido ao ano de 1862. [2]
O Alentejo pode e quer contribuir para o seu desenvolvimento e para o
desenvolvimento do país.
O território tem condições de contribuir para o aumento das exportações e a
diminuição das importações em particular no sector alimentar, onde o país não é
autossuficiente. A nossa dependência alimentar é mais elevada nas leguminosas
secas onde a produção só chega para satisfazer 8,5% das necessidades do país,
mas é igualmente muito significativa nos cereais e arroz (produzimos apenas
28,7% do que consumimos), nas raízes e tubérculos (56,7%), nas carnes e
miudezas (71,8%) e nos frutos (76,3%).
A produção agroalimentar é um dos eixos de desenvolvimento em que a região
tem condições e competências para ajudar a satisfazer as necessidades nacionais
(dispensando as importações) e ainda exportar como já acontece com os vinhos de
enorme qualidade que aqui produzimos e garantindo a melhoria das condições de
vida dos trabalhadores e das populações.
O Turismo é outro dos eixos fundamentais para o desenvolvimento que
queremos. Temos todas as condições para o atingir: mar, sol, montanha,
planície, cultura, património natural e construído, formação de excelência e
reconhecimento internacional precisamos tão só de políticas que apostem em
infraestruturas, em particular aeroportuárias e ferroviárias, que quebrem o
isolamento a que temos sido votados e permitam a entrada e saída rápida e
segura para os alentejanos e para os visitantes.
Porque certos de que é possível inverter a situação que nos foi imposta os
trabalhadores alentejanos e as suas organizações de classe tem vindo a lutar
por um conjunto de mudanças que entendem necessárias e em particular:
Uma política económica alternativa para o país, com base no desenvolvimento
do tecido produtivo, na dinamização do mercado interno, através do aumento dos
salários e das pensões, no crescimento das exportações e na substituição de
importações, condição indispensável a podermos diminuir a nossa dependência
face aos défices externos (alimentar, tecnológico, energético).
A adoção para o Alentejo de um Plano Imediato de Intervenção Económica e
Social capaz de desenvolver e modernizar o sector produtivo, que inclua a
agricultura, a pesca e a reindustrialização bem como os sectores de ponta como
as energias renováveis, a aeronáutica e as chamadas atividades verdes e garanta
mais e melhor emprego na região e a melhoria das condições de vida dos
trabalhadores e das populações.
Pela primeira vez em muitos anos, fruto das alterações politicas verificadas
com a criação de maiorias aritméticas e politicas que apostam num novo
paradigma de desenvolvimento para o país, o Alentejo pode retomar o sonho!