A situação (gravíssima)
vivida/sofrida na região Alentejo não se confina apenas a este território. A
“crise “ económica e social atravessa “fronteiras” e ataca, também, com
particular violência o território extremenho que é, sempre o foi, a continuação
do Alentejo.

É verdade que derrubadas as ditaduras
que durante décadas subjugaram os povos de Portugal e Espanha, os extremenhos
conquistaram a autonomia politica para as suas gentes mas a recente chegada ao
poder regional da direita politica já detentora do poder nacional, acabou por
esmagar os muitos avanços alcançados pelos extremenhos.
A situação é, também ali, de grandes
dificuldades com 151.000 desempregados (30% da população activa) e uma elevada
taxa de desemprego de longa duração (60%).
Hoje 46% dos desempregados não
auferem quaisquer apoios sociais e as famílias com todos os seus membros no desemprego
atingem já 50.000 e estima-se que os desempregados em risco de pobreza atinjam
os 40%.
Extremadura é, actualmente a segunda
região de Espanha com maior taxa de pobreza e a terceira com maior taxa de
desemprego.
Este retrato que não é diferente da
situação que vivemos no Alentejo, é o resultado das politicas de roubo dos
direitos dos trabalhadores e das populações que não só têm provocado um aumento
significativo da pobreza e da desigualdade em amplas camadas da população como
significam uma dramática deterioração dos serviços públicos e põem em causa as
próprias instituições democráticas.
Observando o que se passa na euro-região
é fácil constatar que as politicas impostas por Madrid ou por Lisboa não têm
quaisquer diferenças porque são iguais os objectivos de quem as impõe e são os
mesmos os que delas se aproveitam.
Hoje é claro, para extremenhos e
alentejanos que a destruição de uma importante parte da estrutura produtiva da
euro-região, a queda do investimento público e o aumento substancial da dívida
pública de ambos os países, vão impedir a saída da crise e o futuro de várias
gerações.
Por todo o território a precariedade,
a temporalidade a parcialidade involuntária foram-se apropriando do mercado
laboral, provocando o aparecimento de situações de pobreza mesmo entre os que
apesar de trabalharem não auferem o rendimento mínimo necessário para
sobreviverem com dignidade.
Num e outro lados da antiga
fronteira politica as cada vez mais alargadas politicas de privatização
(directas ou encapotadas) dos serviços públicos essenciais e o desbaratar do
património do estado são instrumentos para favorecerem a acumulação e
concentração do capital nas mãos privadas l e desvincular cada estado das suas
funções sociais.
As “reformas laborais” cujo objectivo
confesso foi facilitar os despedimentos, a baixa dos salários, o roubo de
direitos, o aumento da jornada laboral e o desmantelamento da contratação
colectiva foram num e noutro lado da “fronteira” um ataque sem precedentes a um
conjunto de direitos laborais e sociais consagrados constitucionalmente.
A intensa ofensiva de ataques e
acusações à acção sindical de classe, violando convenções internacionais
mereceram denuncias junto da OIT e têm unido em sua defesa os trabalhadores
extremenhos e alentejanos e os seus sindicatos de classe.
A luta desenvolvida em toda a euro-região
tem exigido a urgente implementação de politicas de crescimento económico, de estímulo
à procura e de crescimento dos salários.
Tal como no Alentejo, também na
Extremadura existem recursos suficientes para recolocar a região nos caminhos
do desenvolvimento económico e do progresso social e por isso, os sindicatos de
ambos os lados da “fronteira” reunidos em Portalegre a 10 de Março último
definiram desenvolver acções e lutas comuns em quatro direcções fundamentais à
recuperação económica e social.
- Primeira prioridade, a luta contra o desemprego. Sem emprego não há recuperação possível. São necessários planos extraordinários para apoiar a criação de postos de trabalho de qualidade na euro-região.
- Reactivar a economia da euro-região. Sem actividade económica, sem consumo, não há recuperação nem há emprego. Importa tomar medidas para restaurar o poder de compra dos trabalhadores e das famílias e apostar, num e outro lado da “fronteira” na reindustrialização porque é inegável a necessidade de projectos industriais fortes e sólidos que funcionem como locomotiva das nossas economias.
- As infra-estruturas
são vitais para o desenvolvimento que queremos pelo que é fundamental dar
continuidade a obras que nunca se iniciaram ou ficaram suspensas:
- A linha
ferroviária de alta velocidade entre Lisboa e Madrid;
- A Plataforma
logística do sudoeste;
- O Trem de alta
velocidade prometido entre Sines e Badajoz, com ligações a Beja e Portalegre;
- A modernização da
linha e recuperação do transporte de passageiros entre Abrantes e
Badajoz,
- A potenciação do
comboio tradicional entre Alentejo e Extremadura com regresso do
Lusitânia entre Madrid e Lisboa ao seu traçado original com a recuperação
do ramal de Cáceres;
- A finalização das
estradas suspensas e em particular a IP8 e IP2, IC13 e estrada de ligação
entre o Alentejo e Extremadura por Nisa/Cedillo;
- A construção da
Barragem do Pisão-Crato
- Um plano de melhoria das transferências para Centros educativos e hospitalares
- O reforço das políticas sociais e do Estado de Bem-estar que passa pelo fim da ofensiva contra os serviços públicos e o abandono ou desmantelamento dos serviços do interior em particular nos âmbitos sociais, da educação e da saúde.
Todas estas acções podem e devem ser
sustentadas pelos fundos comunitários, fundos do orçamento geral dos Estados e
no caso extremenho, também da comunidade autónoma.
Os trabalhadores de ambos os lados
da “fronteira” e o seu movimento sindical não abdicam de serem actores do seu
futuro.
Diogo
Júlio Serra
(publicada na Revista Alentejo nº 38 de Junho > Novembro de 2015)